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Tradição de ensino e linhagem de professores

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Mestres

Dakshinamurti 

Para se adquirir o conhecimento claro de Vedanta, é fundamental fazer parte de uma linhagem, sem cortes, de mestre/discípulo, chamada de "guruparampara". O contato direto com um professor ou professora, aprendendo através do estudo de vários textos, em aulas diárias, em ambiente propício, durante algum tempo, é fundamental. A linhagem de mestres do Vidya Mandir vem do próprio Senhor Dakshinamurti, o primeiro mestre, passando pelo grande mestre Sri Shankara, mais recentemente, Swami Tapovan, Swami Chinmayananda, Swami Dayananda e Gloria Arieira.

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Sri Shankara

Sri Shankara é considerado um dos grandes mestres da tradição de Advaita (não-dual) Vedanta. Ele nasceu em Kalady, no estado de Kerala, no sul da Índia e viveu no século VIII de nossa Era. Tornou-se um Sadhu (renunciante), partindo de casa muito jovem.

Estudou sob a orientação do mestre Govindapada, que vivia às margens do rio Narmada, no oeste da Índia, e viajou a pé por todo o país, como era costume na época. Devemos a Bhagavan Shankara a forma escrita da tradição do ensinamento dos Vedas, que atravessou os séculos e chegou até os nossos dias, intacta em sua essência.

Ele não somente conseguiu transmitir o ensinamento em forma escrita num estilo muito agradável e profundo, como escreveu também comentários sobre esse ensinamento.

São os comentários de Shankara que formam a base para a tradição do ensinamento conhecido como Vedanta. Existem outros comentários escritos sobre o ensinamento dos Vedas, mas foram os de Sri Shankara que permaneceram e foram seguidos por todos aqueles que vieram depois dele.

É dito que Sri Shankara morreu aos trinta e dois anos, no norte da Índia, em Kedarnath. Ele não foi o iniciador de Advaita Vedanta, mas sim um dos elos dessa antiga tradição de ensino. Não criou nada novo, mas tratou de questões contemporâneas do ponto de vista do ensinamento, o que fez dele um grande mestre e símbolo do próprio conhecimento que transmitiu.

Quatro foram seus principais discípulos - Sureshvara, Padmapada, Totaka e Hastamalaka. Sri Shankara fundou quatro centros de estudos nos quatro cantos da Índia, e em cada um desses estabeleceu um de seus discípulos. Depois desses, foram escolhidos outros que se tornaram chefes desses maths, centros de estudos, até os dias de hoje. Cada um recebe o título de Shankaracarya. E, assim, Sri Shankara ficou denominado de Adi Shankara, o primeiro Shankara.

Esses quatro maths são assim localizados:  Sringeri (ao Sul), Puri (a Leste), Joshimath (ao Norte) e Dwaraka (a Oeste). Todos estes continuam fortes reservatórios de estudo dos Vedas, particularmente do ensino tradicional de Vedanta.

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Swami Tapovan

Swami Tapovan nasceu em Palghat (hoje denominada de Palakkad), Kerala, em 1889, no dia auspicioso de ekadashi (o décimo primeiro dia da quinzena lunar brilhante) do mês Margashirsha (que vai de novembro a dezembro), no dia da Nakshatra/constelação Revati, que era também o dia auspicioso de Gita Jayanti, dia da Bhagavadgita, possivelmente no dia 6 de dezembro de 1886. Sua mãe, Kunchamma, pertencia a uma família aristocrática de Kerala, a família Nair de Palghat. Seu pai, Achutan Nair, era de Kotuvayur, Kerala.

O bebê que nasceu para esses pais foi chamado de Subramanian Nair, mas seu apelido era Chippukkutty. Desde pequeno Chippukutty mostra grande interesse por assuntos religiosos e espirituais e se interessa pelas estórias dos Puranas. Quando entra para a escola inglesa local, mostra inteligência e capacidade de aprendizado, mas ao mesmo tempo desinteresse pela forma que as escolas ensinavam. Logo ele resolve pedir ao pai para deixar a escola, mas para seguir os estudos de forma tradicional, com professores particulares. E assim faz até seus 17 anos e dedica-se ao estudo de Vedanta, lingüística e literatura tanto em sua língua mãe, Malayalam, quanto em Sânscrito, e aprende também o inglês. Estuda poesia, peças teatrais, gramática e lógica. Encanta-se com a leitura de textos religiosos em Malayalam, Tamil, Sânscrito e Inglês. Pratica muitas disciplinas espirituais. Desde pequeno vive uma vida comum aos renunciantes espirituais, dedicada à meditação, estudos, reflexão, bhajans; não se interessava por prazeres do mundo.

Os pais de Chippukutty faleceram antes de ele completar 21 anos.

Ele então assume a responsabilidade de cuidar do irmão até que este tenha se formado e esteja casado. Chippukutty vive com a família, mas sua vida tinha o constante foco espiritual. Ele se nega a casar, apesar da pressão da família. Sempre que podia visitava swamis e yogis e estudava com eles.

No ano de 1912 ele foi editor de uma revista chamada "Gopala Krishna", dedicou-se a palestras públicas sobre política, religião e Vedanta, e escrevia artigos para jornais. Ele era muito respeitado pelos jovens de sua idade e também pelos mais velhos. Essas atividades acontecem até seus 28 anos. Então ele perde o interesse e dedica-se exclusivamente ao assunto religioso-espiritual. Suas viagens são para encontrar sábios e santos como Sri Ramana Maharshi em Tiruvannamalai, Tamil Nadu e o chefe da Ramakrishna Mission em Chennai, entre outros.

Em 1920 ele foi convidado pelo então Sankaracharya de Sarada Peetham, Dwaraka, para passar um tempo em Calcutá a estudar e meditar. Ele aceita imediatamente o convite e vai. De lá segue para Haridwar e Rishikesh e no caminho de casa visita Delhi, Mathura, Brindavan, Pushkar e Dwaraka. Essas viagens mudam completamente sua vida. Ele aprecia a solidão das florestas e montanhas; faz muito jejum ou se alimenta somente uma vez ao dia; estuda os shastras, medita e canta bhajans. Os anos se passaram e seu irmão se forma em direito, então o jovem Chippukutty prepara-se para sair de sua casa em Kerala e dedicar-se exclusivamente à vida espiritual. Quando ele viaja, seu irmão pede que ele volte logo, mas ambos sabem que não haveria retorno. Ele vai para Panchavati, perto de Nasik, onde permanece por algum tempo com um mahatma chamado Swami Hridayananda. Então ele segue para a margem do rio Narmada e assume a vida de um renunciante. Segue então sua peregrinação e dirige-se a Prayag e depois a Ayodhya, também na companhia de mahatmas. Depois vai para Rishikesh e lá permanece durante algum tempo e pratica samadhi; é formalmente iniciado na ordem de sannyasa pelo chefe do Kailas Ashram, Sri Swami Janardana Giri, e chamado de Swami Tapovanam (que significa floresta de austeridade).

Ao permanecer em Rishikesh, durante o verão ia até Uttarkashi, a pé.

Suas peregrinações a vários lugares nos Himalayas são descritas em seu livro "Wandering in the Himalayas". Ele visitou também o monte Kailasa e monastérios tibetanos. Essas viagens são contadas no livro "Kailas Yatra". Em 4 ou 5 anos de sua permanência em Rishikesh, Swami Tapovan tornou-se muito conhecido. Ele ficou famoso devido a sua dedicação ao conhecimento e capacidade de desapego e sacrifício. Muitas pessoas foram atrás dele e ofereceram seus serviços, porém Swamiji continuou sua vida só e sempre saia de Rishikesh assim que o clima permitia pois achava que a cidade de Rishikesh estava muito agitada. Ele nunca desceu além de Rishikesh, apesar de receber inúmeros convites de devotos ricos. Uttarkashi, Gangotri e Badrinath eram seus lugares favoritos. Alguns poucos estudantes o acompanharam desejosos de escutar seus ensinamentos de Vedanta.Swamiji escreveu vários livros, inclusive um de poemas na ocasião da morte de seu pai. Escreveu comentários sobre algumas Upanishads, como Isha, Kena e Katha. Escreve vários hinos em Sânscrito e, a pedido de devotos, escreve também em Sânscrito sua autobiografia "Iswara Darshana". Os escritos de Swamiji são inspiradores e pontuados por ensinamentos de Advaita Vedanta. Seu livro "Wandering in the Himalayas" é poético e especialmente inspirador por seu amor pela natureza e a apreciação de Ishvara em cada expressão da natureza admirada por ele em suas peregrinações. Swami Tapovan foi um grande sábio de Advaita Vedanta e sua vida continua a nos inspirar até hoje.

Viveu uma vida tranqüila de disciplina e rigor, imposta a si mesmo e a seus discípulos. Ao mesmo tempo tinha compreensão e compaixão por todos que entravam em contato com ele.

Permaneceu às margens de Ganga e peregrinando, a pé, pelas montanhas dos Himalayas.Com o tempo, a saúde de Swamiji foi declinando, mas ele nada disse.

Os discípulos vieram a saber somente quando seu corpo já havia perdido muitos quilos. Ele continuou durante toda sua vida com suas disciplinas e nunca aceitou tratamento nem tampouco a ida para um hospital. Dizia que seu corpo seguiria sua própria trajetória natural. Vários devotos e mahatmas foram visita-lo em Uttarkashi. No dia 16 de fevereiro de 1957, na hora auspiciosa de Brahma-muhurta, Swamiji entrou eternamente em samadhi. Era um dia auspicioso. Dia do festival anual no templo de Viswanath em Uttarkashi. Neste dia, devotos e mahatmas de toda parte da India vão para este templo. Os devotos e discípulos de Swamiji jogaram água de Ganga em seu corpo, passaram pasta de sândalo e vibhuti no corpo, decoraram com guirlandas de flores e o depositaram nas águas de Ganga. Aqueles que participaram deste ritual banharam-se a seguir na sagrada Ganga cheios de devoção e homenagem ao Swamiji. 

Não só sua vida foi especial, como também foi o momento e o lugar de seu samadhi final.

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Swami Chinmayananda 

Sri Swami Chinmayanandaji nasceu em 8 de maio de 1916, às 19,30horas, em Ernakulam, Kerala, no sul da Índia, com o nome de Balakrishnan Menon; seu apelido era Balan.Sua mãe, Parukutti Amma, e seu pai, Vadakkekurupath Kuttan Menon, pertenciam a uma família aristocrática muito conhecida. Seu pai, que era da cidade de Trichur, torna-se juiz em Ernakulam. Sua mãe era irmã do Chefe de Justiça de Cochin. O sobrenome Menon indica que as pessoas desta casta são de família nobre da qual fazem parte os Nairs.

Quando Balakrishnan nasceu, o astrólogo disse que ele seria muito conhecido e faria um trabalho extraordinário. Balan foi muito estudioso e formou em Ciências, Inglês e Literatura Inglesa. 

O jovem Balan era muito entusiasmado e fez parte ativa do movimento para a retirada dos ingleses da Índia, em 1942 - "Quit India Movement". Balan escrevia artigos, distribuía panfletos e fazia discursos. Muitos ativistas deste movimento morreram, outros foram colocados na cadeia. Quando Balan soube que sua prisão havia sido declarada, ele foi para Kashmir e lá permaneceu em 1943.

 

Depois de algum tempo, pensando ter sido esquecido pela polícia britânica, Balakrishnan retorna ao movimento pela libertação da Índia, porém ele foi pego e colocado, junto com outros, em celas frias e escuras, com pouca comida e sem condições higiênicas. E, por esta razão, muitos prisioneiros morriam diariamente. Balakrishnan contraiu febre tifóide.

A polícia, achando que ele estava morto, coloca-o na rua.

Logo uma senhora vem de carro e para; ela pensou que Balan era seu próprio filho que lutava na Europa em tropas britânicas. Ela leva Balan para casa e cuida dele. Depois de algumas semanas ele estava curado. Balan trabalhou como jornalista no jornal "The National Herald". Ele desejava colaborar para a reforma política, econômica e social da Índia. Um dia, como jornalista, Balakrishnan foi ao encontro de Swami Sivananda que tinha um ashram em Rishikesh. Balakrishnan queria escrever um artigo sobre os renunciantes. Após este encontro sua vida muda completamente. Balan torna-se um renunciante em 25 de fevereiro de 1949 e recebe o nome de Swami Chinmayanada Saraswati do próprio Swami Sivananda Saraswati.

Após permanecer alguns anos no ashram de Rishikesh, Swami Sivananda diz que ele deve ir ao encontro de Swami Tapovan para aprofundar seus estudos, pois viu o grande interesse, dedicação e questionamento profundo do jovem Swami Chinmayananda.Swami Tapovan era um grande estudioso e sábio; era também conhecido por suas rigorosas disciplinas. Swami Tapovan era rigoroso também com seus discípulos e quando Swami Chinmayanada pede que lhe ensine, Swami Tapovan diz que falaria tudo uma única vez e que não poderia ser questionado.

Swami Chinmayanada permanece alguns anos com seu mestre, não só em um pequeno ashram em Uttarkashi, mas peregrinando com o mestre pelo Himalayas. Em 1952, Swami Chinmayananda pede as bênçãos de seu mestre para descer as montanhas e ensinar Vedanta às pessoas que moravam nas cidades. No princípio Swami Tapovan não gostou da idéia e disse que ele permanecesse onde estava, se pessoas estivessem interessadas em estudar Vedanta que fossem até onde eles estavam. Porém com muita insistência por parte de Swami Chinmayananda, o mestre concorda e diz que ele tentasse três vezes. Se houvesse mais de três pessoas nas aulas, que ele continuasse, caso contrário, que retornasse para Uttarkashi.

Nas primeiras palestras havia somente uma pessoa, além do organizador e o faxineiro, disse Swami Chinmayananda.

Depois de algum tempo, ele começa a fazer séries de palestras de Vedanta, sobre Upanishads e a Bhagavadgita. Estas séries de aulas duravam por volta de 15 dias, com aulas de manhã e ao anoitecer, e foram chamadas de Jnana Yagna (Ritual de conhecimento, palavra tirada do capítulo 4 da Bhagavadgita).

O primeiro Jnana Yagna teria sido em Pune, no estado de Maharastra. ( No final de sua vida, foram contabilizados 576 Jnana Yagnas realizados por ele em vários partes do mundo).

Em 1953, alguns de seus discípulos muito entusiasmados de Madras (antiga Chennai) começaram um grupo de estudos que denominaram de Chinmaya Mission. Apesar de Swamiji não querer fundar uma instituição, o grupo continuou e deu origem posteriormente à conhecida instituição comandada pelo próprio Swami Chinmayananda e atualmente por um discípulo seu.

Em seus 42 anos de ensinamentos e viagens, Swamiji realizou um grande trabalho social, construiu escolas, hospitais, clínicas e comandou a reconstrução de alguns templos. Publicou mais de 35 livros, incluindo comentários das Upanishas e Bhagavadgita. A partir de suas palestras nasceram muitos livros, inclusive um sobre o simbolismo das deidades hindus. Todos os livros e vídeos são claros e elucidativos. Swami Chinmayanda de fato lutou pelo renascimento da tradição védica e foi original ao começar a ensinar em inglês pois desejou atingir os indianos cultos que haviam sido influenciados pelos britânicos que dominaram o seu país por tanto tempo.

Ele era conhecido por sua clareza, sabedoria, humor e grande domínio da língua inglesa culta. Sua presença era amorosa ao mesmo tempo que disciplinadora. Foi e continua sendo fonte de inspiração para milhões de pessoas na Índia, nos Estados Unidos, Canadá e tantos outros países.

Ele alcançou o mahasamadhi, abandonando o corpo físico, em 3 de agosto de 1993. Existe uma memorial para ele na casa onde nasceu Sri Sankara, hoje cuidada pela Chinmaya Mission, em Ernakulam, Kerala.

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Swami Pranavananda

Swami Pranavananda nasceu em Andhra Pradesh por volta dos anos 1890 e alcançou o mahasamadhi em 15 de maio de 1969. Ele ensinava em telugu e em sânscrito e ficava em Gudivada, perto de Vijayavada. Swami Pranavananda ensinava principalmente Pancadashi, mas não se preocupava em ensinar todo o livro, o seu foco estava em transmitir a visão de Vedanta para quem estivesse sentado à sua frente para estudar. O texto não era o mais importante, mas sim a visão, o entendimento de Vedanta. Por isso ele foi chamado de “vision teacher”, o professor da visão. Suas aulas eram chamadas de bodha, conhecimento, pois focavam na visão, no ensinamento. Ele lidava com sabedoria com as palavras que escolhia usar. Sabia muito bem que Vedanta é um pramanam, um meio de conhecimento, e por isso dizia que não dava palestras, somente ensinava.

Swami Dayananda conheceu Swami Pranavananda em uma conferência com vários professores de Vedanta. Ele se sobressaía pois lidava muito bem com os paradoxos de Vedanta, explicava com clareza Vedanta usando a metodologia tradicional de ensino.

Swami Dayananda, ainda brahmachari Natarajan, morou no ashram de Swami Pranavananda por alguns meses, entre 1961 e 1962, e depois foi visitá-lo de 3 em 3 meses por alguns anos.

Texto de Swami Dayananda Saraswati, extraído do artigo de Junho de 1969 da revista Tapovan Prasad, citado no livro: Swami Dayananda Saraswati – Contributions & Writings, Sheela Balaji, Arsha Vidya Research and Publication Trust, 2012 (p 328-331).

“Sua Santidade Swami Pranavananda, de Gudivada, alcançou o mahāsamādhi (deixou o corpo) no dia 15 de maio de 1969. Ele estava com seus setenta anos.


Com a insistência de Sri Swamiji (Swami Chinmayanandaji), eu morei com Sri Swami Pranavananda em seu ashram por alguns meses entre 1961 e 1962, e desde então estive em contato com ele.

Com relação ao ensino de ātma-vidyā, existe uma tradição em nosso país (Índia). Se esta não é conhecida por um professor, ele jamais poderá transmitir o conhecimento da śruti para um buscador. Assim como os olhos são o pramāṇa para todas as percepções de formas, a śruti através de um professor vivo se torna o pramāṇa para o conhecimento do Eu. E portanto, o método de ensino é importante. Se não há método tradicional no ensino deste vidyā, não há necessidade de um guru; a pessoa pode ler os livros tendo certas qualificações gerais preliminares necessárias para ler e entender.

 

Poucos conhecem a importância deste método, o que dizer do método em si. Devido a essa omissão, esse vidyā por inteiro se mostra sem sentido na medida em que se torna objetivo. O professor através do método tradicional da śruti coloca o estudante em real experiência, uma vez que o primeiro ensina, de uma forma peculiar que é a tradição, a natureza de si mesmo, o Eu. Swami Pranavananda era um destes grandes professores. Seu hábil manejo dos paradoxos contidos nas escrituras costumava, assim como os Koans dos mestres Zen, desatar o raciocínio do estudante de seus conceitos relativos e com isso trazer o súbito reconhecimento ou Satori.

 

Eu descobri em suas aulas esse aspecto central de nosso ensino tradicional. Quando o encontrei há alguns meses atrás, ele estava acamado. Mas estava claro em seu pensar e feliz como de costume. Ele sabia que não havia cura para a doença da qual sofria. Enquanto me despedia dele depois de dois dias de estadia no ashram, pedi a ele que desse uma mensagem para os buscadores. Ele ditou imediatamente em Telugu para um dos residentes do ashram algumas linhas, de fato, a essência das nossas escrituras. Eu traduzo as mesmas a seguir:


´A doença que acometeu esse corpo é muito grave para qualquer cura, ela vai desaparecer somente ao custo deste corpo. Portanto, os medicamentos ou doutores não devem ser culpados se eles falharem em serem efetivos. Por conta dessa ausência de esperança, minha mente não está de maneira alguma aflita. Eu considero que tudo isso é para o bem.


Liberdade é a natureza do Eu, e o Eu é idêntico a Brahman que é não dual. Portanto, o Eu assim como Brahman é livre de todos os modos de dualidade tais como sajātīya, vijātīya e svagata.


No último verso da Bhagavad Gītā (capítulo 2) é dito que brāhmī sthiti é o destino desta vida e portanto, a morte não pode ser uma viagem com o prāna.


Karma e upāsana são buscados pelas pessoas apenas devido à sua identificação com o corpo, dehātma-buddhi. O corpo, que é diferente do Eu, é tomado como o Eu, e por isso existe a busca de karma e upāsana. Portanto, essa busca não pode ser considerada como mokṣa.


Suponha que uma pessoa de nome Rāma esteja dormindo. Se ela é chamada por alguém “Rāma”, ela desperta. De forma semelhante, com palavras profundas da śruti, se o mestre revela ao estudante a identidade do Eu com o Absoluto, o estudante desperta para descobrir sua identidade com Brahman. Portanto, mokṣa é apenas através do ensinamento do mestre e da śruti. É isto o que é indicado por Śaṅkara no seu famoso verso “brahma satyaṁ jagan mithyā, jīvo brahmaiva nāparaḥ”; Brahman o Absoluto é a Realidade; o mundo é aparente; jīva o conhecedor não é diferente de Brahman, o Absoluto. Isto, e isto somente, é a mensagem de Ādi Śaṅkara. Todos os outros seguem a partir deste ensinamento. Portanto, eles não possuem conteúdo original.


“Tu és Aquilo” é a profunda declaração da verdade revelada à Śvetaketu como encontramos no Sāma Veda. O mahāvākya “tat tvam asi” conhecido como upadeśa vākya é a frase principal dentre todas as outras frases na śruti. Todas as outras frases estão centradas nesta somente.


Karma e upāsana são praticados mantendo o ahaṅkāra (ego). Esse usufruir dos frutos da ação existe apenas quando o Eu é tomado como sendo o ego. E a liberação e o aprisionamento também, enquanto pertencem ao ego, aparecem como se pertencessem ao Eu.


Essa falta de discriminação, que é algo natural para o intelecto que é extrovertido, não vai facilmente embora a não ser que a pessoa escute do mestre, por um bom período de tempo, as escrituras, e reflita, e contemple sobre o que escutou. Portanto, viver com o mestre, gurukulavāsa, é imperativo. É por isso somente que sannyāsa-āśrama (estilo de vida de renunciante)
está em voga. Essa é a essência de todos os śāstras. Mantenha isso sempre em seu coração. A noção de que o mundo é real deve ser eliminada. Isso é a prática, contemplação.`


O Swami ditou tudo isso em sua usual clareza de expressão. Ele tinha claro de que não há morte para um sādhu, e eu também não sinto que ele tenha jamais morrido.”


(Traduzido para o site do Vidya Mandir por Henrique Castro.)


ātma-vidyā = conhecimento do Ātmā, o Eu livre de limitação
śruti = os Vedas, escrituras sagradas
pramāṇa = meio de conhecimento
karma = ação em geral, em especial rituais védicos
upāsana= meditação
mokṣa = liberação
śāstra = escrituras da tradição védica em geral
sādhu = um renunciante

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Swami Tarananda Giri

Swami Tarananda nasceu, por volta dos anos 1920, numa pequena vila no norte da India, talvez na área em que hoje é o Paquistão. Saiu de casa em busca de moksha, a liberação, ainda bem jovem. Foi para o Kailash Ashram, em Rishikesh, e lá tornou-se um renunciante, sannyasi.

Era muito rigoroso em suas disciplinas. Gostava de comida simples do norte da India: chapati, dal e legumes.

Ele estudou com o Swami Vishnudevananda que era chefe do Kailash Ashram. Swami Tarananda ensinava Vedanta, Sânscrito e Lógica. Mais tarde, ao sair do ashram  de Rishikesh, ele vai para Haridwar onde mora sozinho.

Em Haridwar tinha uma vida de disciplina: acordava bem cedo, tomava banho de água fria numa bica e por volta das 4:30 horas fazia e tomava seu chá. A cozinha era do lado de fora, com um fogo feito de gravetos. Depois do chá, fazia suas orações e caminhava.

No retorno de sua caminhada, olhava o ashram, comia frutas e recebia pessoas que vinham falar com ele. Perto do meio-dia almoçava e descansava um pouco. Depois, acordava, tomava chá, lia, ensinava uma ou duas aulas, andava no final da tarde, falava com outros renunciantes no caminho e voltava, fazia orações, jantava e se retirava para dormir. Enquanto seu corpo permitiu, Swami Tarananda fez caminhadas diárias.

Ao dar aulas, ele, que tinha uma memória fantástica, citava sutras da gramática sânscrita; mostrava conhecer muito bem a filosofia das religiões ligadas aos Vedas, como Budismo e Jainismo e conhecia bem religiões e línguas comparativas. Suas aulas eram em hindi e sânscrito.

Swami Dayananda estudou Brahmasutras, no Kailash Ashram, com Swami Tarananda quando viveu em Rishikesh de 1964 a 1967. Por sua vez, Swami Tarananda estudava ao mesmo tempo com Swami Vishnudevananda. E Swami Dayananda dava aula de Brahmasutras para alguns alunos logo depois. Assim fluía a tradição de ensinamento, sampradaya.

Em algumas ocasiões Swami Dayananda levou seus alunos dos vários cursos para conhecer e reverenciar o Swami Tarananda.

Nos anos 90, a saúde de Swami Tarananda estava fraca e Swami Dayananda pediu para que ele fosse ficar em Rishikesh onde ele poderia ser cuidado pelas pessoas do ashram.

Swami Tarananda Giri viveu em paz e morreu em paz, em fevereiro de 2004.

Texto original de Uday Acharya: http://discover.hubpages.com/

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Swami Dayananda 

Swami Dayananda Saraswati nasceu em uma vila no sul da Índia. Em 1953, morando e trabalhando em Chennai, vem a saber de uma série de palestras ministradas por Swami Chinmayananda, que se torna um de seus mestres, o que transforma sua vida. Dá início, então, ao aprofundamento do seu conhecimento de Vedanta e Sânscrito e em 1962 torna-se um renunciante.

Começou a ensinar Vedanta e Sânscrito em Rishkesh, no norte da Índia, às margens do rio Ganges, e em 1973 foi chamado por Swami Chinmayananda para ensinar durante dois anos e meio a um grupo de 50 estudantes em Mumbai.

Foi o início de vários cursos na Índia e nos Estados Unidos. Seus cursos, também ministrados em Inglês, abriram aos estudantes do Ocidente a oportunidade de acesso a este ensinamento.

Swamiji, como é conhecido por seus discípulos, viajou por toda a Índia ministrando cursos e palestras, e desde 1976 foi para os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Suécia, Austrália, África do Sul, Brasil e Argentina. Em todos esses países, assim como na Índia, era conhecido por sua facilidade de comunicação e pela clareza e profundidade de seu conhecimento de Vedanta e da complexidade humana.

A primeira visita de Swamiji ao Brasil data de dezembro de 1978. Desde então,  realizou 13 visitas ao nosso país, tendo estado em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Campinas, além do Rio de Janeiro. Seus cursos e palestras eram traduzidos para o português pela Professora Gloria Arieira.

Em março de 1999, tivemos a oportunidade de conviver com ele em um curso de quatro dias em Itatiaia, sul do Estado do Rio de Janeiro. Sua última visita foi ao Rio de Janeiro, em 2004, onde, com clareza e eloquência fez várias palestras e satsangas para mais de 400 pessoas.

Swamiji estabeleceu dois ashrams na Índia, um em Rishikesh e outro em Coimbatore, e o Arsha Vidya Gurukulam, nos Estados Unidos. Nessas instituições, Swamiji era o principal professor. Os cursos de Vedanta e Sânscrito tiveram duração de trinta meses, em regime residencial, e o ensinamento é passado de mestre a discípulo, num fluir permanente, que tem como objetivo desdobrar a visão de "eu" como um Ser completo e livre.

Recentemente, Swamiji criou um programa para ajudar as pessoas que vivem em áreas distantes dos centros urbanos, na Índia.

Este programa oferece uma ajuda nas áreas de saúde, educação, auto-suficiência e validação cultural. Esse movimento chama-se All India Movement for Seva, AIM for Seva, movimento de toda a Índia para o serviço.

Ele também conseguiu reunir vários representantes de diferentes sampradayas, as várias tradições de ensinamento da Índia, o programa é chamado de Acharya Sabhá.

 

Na vila em que ele nasceu, Manjakuddi, no estado de Tamil Nadu, foram estabelecidas escolas para crianças de todas as idades e uma universidade que serve várias vilas ao redor de Manjakuddi. A vila foi reformada mantendo o seu formato tradicional. Alunos de Swamiji levam seus alunos para a vila para fazerem camps de estudos de Vedanta e tradição védica, pois foram construídos lugar para abrigar e alimentar as pessoas que vão estudar e uma confortável sala para aulas. É uma experiência única em uma vida muito confortável no sul da India, enriquecida pela presença de Swamiji pois foi ali que ele viveu até seus 20 anos.

Em 2010 Swamiji completou 80 anos.

Em 2011 completou 1.000 luas de vida, e um evento comemorativo desta data, chamado de Satabhishekam, aconteceu em Coimbatore, no sul da India, nos dias 20 a 22 de julho de 2011. Foi uma homenagem ao Swamiji e reconhecimento por seus anos de dedicação ao ensinamento de Vedanta, proteção da cultura védica e serviço social através do AIM for Seva.

 

Em 23 de setembro de 2015, Swamiji alcançou mahasamadhi, em seu ashram de Rishikesh, India, à beira de Ganga, num momento de muita paz e quietude. Todos seus alunos e devotos sentem sua presença a permear o universo.

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Gloria Arieira

Gloria Arieira é a Diretora Presidente do Vidya Mandir.

Em janeiro de 1974 foi para a Índia estudar com Swami Dayananda, que tornou-se seu mestre. Com ele estudou até julho de 1978, retornando então ao Brasil. Além de permanecer no Ashram Sandeepani Sadhanalaya, um local de estudo e vivência com o mestre, em Mumbai, também estudou em outros ashrams em Uttarkashi e Rishikesh, norte da Índia. Viajou também para lugares nas várias regiões da Índia, para participar de cursos, palestras e visitas a lugares sagrados, como os templos de Tamil Nadu e Kerala, conhecendo melhor a tradição cultural e religiosa dos Vedas.

Desde seu retorno, vem ensinando Vedanta e Sâsncrito no Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil e também no Porto, em Portugal. Dedica-se também ao trabalho de tradução para o Português dos textos em Sânscrito, como a Bhagavadgita, Upanishads e vários outros. É responsável pela publicação em português dos livros de Swami Dayananda, editados pela Vidyamandir Editorial, e de dois outros livros: Orações Milenares e Puja - a realização de um ritual védico.”

Prêmio Padma Shri 2020

Janeiro de 2020

Literatura e educação em sânscrito e Vedanta no Brasil.

Vidya Mandir tem o orgulho de anunciar que Gloria Arieira foi agraciada com uma das maiores honras civis da Índia, o Padma Shri Award, no Dia da República de 2020, por sua literatura e educação em sânscrito e Vedanta no Brasil.

Saiba mais ...

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As escrituras dos Vedas no Brasil

Sweet Blog: nectarine divine literature

30 de setembro de 2010

Gloria Arieira, uma brasileira e uma autoridade em sânscrito, traduziu o Bhagawad Gita e partes dos Vedas para o português, permitindo que seus alunos em todo o Brasil e Portugal acessassem as profundezas dessa grande filosofia. Então, se você está em busca de espiritualidade no balneário de Copacabana, no Rio, você a encontrará na Vidya Mandir, uma escola de estudos da Vedanta fundada e administrada por Gloria.

Saiba mais ...

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