Tratamos em Vedanta de três ordens de realidade. A realidade absoluta que é imutável, que chamamos Brahman ou Atma.
A realidade relativa que existe relativamente e está em constante mudança.
Quando dizemos que não é real, é porque não é absoluta. É ilusão pois parece real, mas descobrimos que não é real. Nada no universo é uma coisa só. Existem várias maneiras de olhar. Uma mesa é mesa, mas é madeira, também é um tampo com pés etc.
E temos a realidade subjetiva, que é real somente para uma pessoa; como um sonho ou um ponto de vista.
Sempre no Maha-shivaratri você pode oferecer um jejum, pode ser deixar de comer algo que goste muito, ou comer só frutas durante o dia. Nesse dia ficamos mais quietos e fazemos mais meditação. E quando há um grupo, nos unimos para cantar om namah shivaya juntos. No Vidya Mandir, cantamos por 12 horas, sempre temos 2 pessoas liderando o canto por meia hora. Por fim, cantamos todos juntos.
Você pode cantar Hanuman Chalisa, se você souber cantar. Pode também praticar yoga e meditar.
Arjuna, na Bhagavadgita, também tem essa dúvida e Krishna responde a ele.
É muito bom ter um convívio com a família, seja a família ampliada, de pais, irmãos, primos, avós etc, ou a família nuclear de companheiro/a, filhos. É o relacionamento de igual, como temos com família e amigos, que nos dá a oportunidade de maturidade emocional.
Valorizar demais o Eu, que você menciona deve querer dizer enfatizar demais a vida espiritual e menos a vida no mundo. Ambas são importantes, e se a pessoa começa se afastar do mundo, tem algo errado.
É verdade, a pessoa pode ser orientada por pessoas que não têm tanta clareza sobre a vida espiritual e material. Para orientar outros precisamos de clareza, desprendimento e experiência de vida. Até isso é falado nas Upanishads.
Exageros não nos fazem bem.
A natureza básica da pessoa é paz. Poucos momentos conseguimos perceber essa paz que é natural e experienciada em vários momentos de felicidade.
Para a paz não é necessário fazer nada, somente soltar os apegos, medos, ansiedades que estão na mente. É preciso soltar, mas não é necessário adquirir algo.
No sono profundo, quando a mente não funciona, a pessoa está bem. Mas não quer dizer que temos que acabar com a mente para estar em paz.
Paz é uma completude, ausência de desejo: estou bem, não quero nada.
A paz não nasce de companhia, de conquistas, elogios ou reconhecimentos. Mas a paz é reconhecida em momentos em que a agitação da mente desaparece.
Não só a agitação, mas o apego e a identificação com a agitação.
A mente de fato parece ocultar a paz que é o Eu básico. Ela não oculta, mas nossa identificação com a mente, os pensamentos e emoções não nos deixa ver além desses.
Pessoas agitadas, com muita energia são ótimas, pessoas calmas também.
A natureza da mente não faz diferença. O apego aos pensamentos e emoções sim. O Eu é paz independente da mente. Mas, no momento que a mente é mais objetiva, reconhecer a paz é mais fácil.
Temos as palavras: Atma e Ishvara. E ainda tem Brahman. Atma e Brahman têm exatamente o mesmo significado. Atma quer dizer eu; Brahman quer dizer o livre de limitação. São dois enfoques diferentes para a mesma coisa, que é a realidade absoluta.
Ishvara é a causa da criação; causa inteligente e material da criação. Que é Brahman, mas através do poder que faz o universo aparecer, sem Brahman sofrer qualquer transformação. Esse poder é chamado de Maya.
Dizemos que é um poder, shakti, pois não é uma realidade vista ou experienciada em si mesmo, mas tem alguma existência pois vemos seu efeito, seu poder. O poder de fazer aparecer. O universo aparece, e a causa é Ishvara, Brahman através do poder de Maya.
Veja que não é Brahman, mais Maya, pois se fosse, teríamos uma dualidade, e não uma não-dualidade.
Não-dualidade é chamado pois apesar da criação ser experienciada, ela não tem realidade absoluta. Tudo o que de fato existe é Brahman.
Buscamos na vida, todos nós, basicamente 4 coisas, para lidarmos com nossa sensação de carência e limitação:
Segurança;
Prazer;
Fazer o bem para outra pessoa e assim se sentir significativo e;
Liberação da sensação de limitação.
Em sânscrito temos:
Artha;
Kama;
Dharma; e
Moksha.
Qualquer pensamento inclui o pensador, o pensado e o pensamento.
Eu, o pensador posso pensar em carro, o carro é o objeto. E o pensamento tem a forma do objeto: carro.
Quando ao estudar Vedanta entendo sobre a natureza do eu, eu sou o pensador (como sempre), sou o pensado (objeto do meu estudo) e a forma do pensamento é o eu que foi entendido.
Os três não são diferentes, como ao pensar em carro. Os três são iguais. Então é um pensamento específico onde os três são um só.
Você poderá encontrar o senhor Krshina explicando a Arjuna sobre Gunas no capítulo 14 da bhagavadgita. O estudo da Gita dá uma visão completa sobre o assunto.
Também encontrará um pouco sobre Gunas no tattvabodhah
Advaita Vedanta tem como objetivo o entendimento do Eu independente do corpo e da mente. Saber a natureza essencial do Eu para poder viver no mundo relativo através do corpo e da mente.
O Eu básico é o Atma, mas a experiência do ser humano é do Atma através do corpo e da mente. Esses dois - corpo e mente - são identificados como Eu mas não são exatamente o Eu. É como se o Atma tivesse assumido uma forma. De fato, não assume, mas há uma identificação. Como um pote de barro, que na verdade é barro, mas se identifica com a forma “pote”.
Dentro da realidade relativa o jiva existe. E é ele que carrega o karma, faz ação e recebe o resultado da ação, positivo e negativo. Na experiência da vida, o jiva não reconhece sua verdade e precisa conhecê-la.
Ele sofre devido a essa ignorância, e nasce repetidas vezes para entender quem é com clareza. Se olhamos para todo o universo, que inclui os jivas, todo o universo, seu funcionamento e tudo nele é o Criador, Ishvara. O jiva tem que entender que como indivíduo é parte de Ishvara; mas basicamente é Atma que nunca nasceu nem possui uma forma.
Sim, o sonho traz imagens e vivências do acordado e recria de forma peculiar.
Mas existem outros tipos de sonhos, como você mencionou, onde a mente informa sobre algo que poderá ou irá acontecer. Esse tipo de sonho pode acontecer, e tem uma relação também com experiências acumuladas do mundo acordado. Como isso não é o comum, não é mencionado.
As chamadas viagens astrais, quando o corpo sutil sai do corpo físico, também não são comuns na vida das pessoas em geral. Estão sim relacionadas ao corpo sutil. É uma possibilidade, e muitas pessoas se esforçam para terem essas experiências. Outras têm naturalmente; podem ter se esforçado em outra vida.
" No segundo áudio do Yoga sutra de Patanjali, a professora Gloria menciona:
... o primeiro pensamento não é escolhido por você, é uma ocorrência numa ordem lógica do próprio Hiranyagarbha/Mente Cósmica ou na lógica da psicologia clássica, dentro das possibilidades do conteúdo de sua própria mente/experiência/vida... "
Resposta:
Mencionei Hiranyagarbha em algumas aulas do Yogasutras. O conceito de Hiranyagarbha nos Vedas é algo que surpreende e nos relaxa ao entendê-lo.
O mundo físico é considerado em sua totalidade, pois tudo que existe é feito dos mesmos cinco elementos e obedece às leis da física.
Da mesma forma existe uma totalidade no mundo dos pensamentos que também obedece à lei da psicologia, ou seja, as leis que governam os pensamentos e as relações entre os pensamentos.
Por exemplo, frente a uma situação de injustiça, a mente vai produzir de imediato (sem escolha ou deliberação da pessoa) um pensamento que poderá ser de raiva, irritação, recolhimento e medo, ou outro. O que pode ocorrer na mente frente a uma injustiça está na ordem psicológica e ao mesmo tempo na ordem de uma determinada personalidade (que pertence à ordem cósmica) e é uma resposta automática.
Como é automática, vemos que não depende da pessoa, está na ordem das possibilidades psicológicas. Depois desse primeiro pensamento, o que se faz depende de nossa volição, nossa escolha.
A primeira resposta ou reação é automática, pode ser positiva, negativa ou neutra. Depois disso, a resposta a seguir é nossa responsabilidade.
Assim se entende Hiranyagarbha.
Numa das primeiras aulas do Yogasutras, eu explico que o nome técnico para a mente como um todo é antahkarana.
Antahkarana é constituído de pensamentos, fluxo contínuo de pensamentos.
Dependendo do tipo de pensamento a mente tem 4 nomes:
· manas ou manah = pensamentos que oscilam
· buddhi = pensamentos de determinação
· ahamkara = pensamentos de determinação do eu (eu gosto, eu quero, eu não quero, eu sou, eu não sou etc) ou o ego
· citta = pensamentos de lembrança, a memória, o arquivo de memória
Para explicar os quatro tipos de pensamentos usamos essas quatro palavras e suas definições.
Porém, a mente, antahkarana, não é feita de compartimentos ou divisões.
Para mostrar isso, um desses nomes (manas, buddhi, citta e ahamkara) é às vezes usado um pelo outro.
Citta-vrtti é o pensamento da mente, citta aqui é a mente como um todo.
Pode parecer estranho, mas na Bhagavadgita Krishna faz isso também.
A família onde nascemos, em especial nossos pais e irmãos, são muito significativos para a vida que viemos viver e as lições e maturidade que devem ou podem acontecer.
É mais significativo ainda nascer tendo um irmão ou irmã gêmeo/a.
Mostra haver grande conexão com outras vidas já vividas e experiências importantes a serem vividas agora. Algumas podem ser prazerosas e outras difíceis, porém todas muito importantes.
Os gêmeos podem se ajudar de formas diferentes a fazer aprendizados importantes e relevantes. Os irmãos de Arjuna, Nakula e Sahadeva, são gêmeos.
Nos Vedas usamos a palavra caitanya ou cit como consciência; não como a consciência mental ou intelectual, mas como a consciência em si, base para toda e qualquer forma de consciência, mental etc.
Não usamos a palavra espírito, mas considero que seja a consciência individual, o âmago da pessoa, aquilo que ela mantém quando o corpo morre.
Nesse caso, seria traduzido como o jiva, o ser individual que nasce com um corpo e mente, morre e renasce num processo contínuo até o autoconhecimento.
Um sábio, como você disse, é uma pessoa que estudou e adquiriu claro conhecimento do Eu que é livre de limitação, Brahman. Devido a esse conhecimento, não terá novos nascimentos.
Um avatara é um nascimento ou manifestação de Ishvara, na forma humana, mas sem karma, para uma função específica no mundo.
Geralmente o sábio não nasce de novo, mas é dito que, se antes de alcançar a liberação final, o sábio quiser muito nascer para ajudar as pessoas, isso poderia acontecer. Mas é realmente raro, pois sempre têm outras pessoas para ensinar e ajudar a humanidade.
Ishvara sempre dá o resultado adequado, correto, de nossas ações.
Pois o resultado de uma ação vem de leis cósmicas que governam as ações e seus resultados.
Isso não quer dizer que dá o que pedimos, mas dá o possível como resultado da ação feita em determinado momento.
A ação é feita devido a um desejo. Mas o resultado da ação sempre pode ser:
· igual ao desejado
· menos do que o desejado
· mais do que o desejado
· completamente diferente do desejado
Mas, em qualquer dessas opções, o que vem está de acordo com a ação feita.
É o resultado correto para a ação feita. Pois Ishvara não tem desejo pessoal, governa leis universais.
Na introdução do capítulo 5 da Bhagavadgita falo sobre renúncia.
O Vedanta não tem linhagem específica. A linhagem é o fluxo contínuo de mestres e alunos; sejam esses casados ou renunciantes.
A renúncia enfatizada é a da ignorância. Mas também da ilusão e confusão na forma de apego a conceitos falsos. Não há exigência para que o estudante seja um renunciante.
A Bhagavadgita fala tanto para o karma-yogi como para o sannyasi (um renunciante).
Para estudar Vedanta precisamos de:
· escutar (shravanam) a Shruti que são os Vedas
· refletir (mananam) com suporte da lógica, yukti
· contemplar (nididhyasanam) para ter a visão clara: anubhava
Muitas pessoas pensam (até mesmo Arjuna também pensou no início da Bhagavadgita) que para adquirir o auto-conhecimento se faz necessária a dedicação total, e um isolamento em algum ashram ou monastério. Por algum tempo pode ser bom, mas não é necessário.
O isolamento aqui significa não se relacionar com ninguém e só estudar, refletir sozinho e meditar. Muitas vezes isolar-se é uma fuga, pois é fato que os nossos problemas parecem nascer quando nos relacionamos com o outro, com o mundo.
Mas é no relacionamento com o mundo que aprendemos a ter maturidade emocional, que é tão necessária para o estudo.
Nesse momento estamos isolados socialmente, não nos encontramos pessoalmente, mas não é um total isolamento pois nos falamos por mensagens, telefonemas por áudio e vídeo, ligamos a TV, sabemos notícias, podemos assistir a filmes e até a shows e peças de teatro. No isolamento de um ashram não temos nada disso.
É importante nos relacionar com o outro para aprendermos sobre nossos desejos, expectativas e reações. Nos isolarmos muitas vezes é fuga. Mas podermos estar só, aprender a estar só e estar bem, em paz, é muito importante.
O equilíbrio é a melhor opção; melhor do que os extremos.
Alma é uma palavra que precisamos entender exatamente o que queremos dizer com ela. Alma pode ser o corpo sutil (prana, mente e intelecto) do indivíduo (jiva) que adquire um corpo físico, e quando este morre, renasce em outro.
Alma geralmente não é sinônimo de Atma, o Eu, pois o Atma não nasce nem morre, e é um único. O Eu básico é livre de limitação, por isso é chamado de Brahman.
Essa Consciência, que é chamada de Brahman, pode ser vista na forma de jiva (o indivíduo) e de Ishvara (o criador, mantenedor e transformação do universo). A diferença entre jiva e Ishavara não está na Consciência, mas sim na forma.
Assim como a água é vista na forma de uma onda individual e de oceano.
Do ponto de vista do Absoluto, Brahman, não há nascimento. Brahman é sempre o mesmo, só precisa ser conhecido.
Mas do ponto de vista do indivíduo, que é chamado de jiva em Sânscrito, o Eu nasce e renasce, pois, o Eu é identificado com o corpo-mente-intelecto.
A relação entre os dois, o Atma e o jiva, é somente de identificação. Isso porque o eu, Atman, já é livre, mas como é identificado com o corpo etc, parece ser o Atman junto com o corpo.
Ao se identificar com o corpo etc, o jiva sofre. Se vendo como livre de limitação, mas na forma de corpo, ele não sofre, pois sabe que não é o corpo, apesar de se identificar com ele no momento.
Você está certa: a morte tem o seu momento. Em geral, o momento é quando o karma termina. Mas pode haver um abuso de livre arbítrio, como quando ocorre o suicídio. Nesse caso, quando o karma a ser vivido nessa vida não chegou a um fim, o karma que sobra vai ter que terminar em outro nascimento.
Você fala em morte repentina, violenta ou prematura. A morte repentina está dentro do karma, pois a pessoa ou pessoas podem não esperar, mas está na ordem, é o momento certo.
A morte violenta, como suicídio ou acidente, não tendo terminado o karma, leva a pessoa a ter que completar o que restava a ser vivido em outra vida.
E a morte prematura é assim chamada pois não esperávamos, mas estava na hora certa de acontecer.
Emoções, sentimentos aparecem dentro de uma ordem psicológica cósmica. Não são deliberados.
Ação é sempre deliberada. Um pensamento ocorre sem que seja nossa escolha. Mas o segundo pensamento é nossa escolha. Escolhemos ações— física, verbal e mental.
Mas podemos ver nossas reações, entende-las e transformá-las ao longo da vida.
Escutar as aulas é bom, prazeroso, quando sentimos que estamos fazendo mudanças. E as mudanças, inevitavelmente, têm que ocorrer em nossa mente, em nossa maneira de olhar para nós mesmos e para o mundo, que inclui os outros.
Vedanta deve trazer questionamentos pessoais, entendimentos que mudam nosso olhar de problemas, seja de sermos culpados ou vítima de algo.
Somos seres emocionais basicamente, mas nossas emoções nascem de nossas compreensões.
Não podemos anular uma emoção, como uma raiva de nós ou de outra pessoa; mas podemos entender que a raiva nasce de uma frustação, de uma expectativa que não se cumpriu e devido a isso nos sentimos impotentes, e nasce a raiva.
A solução não será a negação da presença da raiva, nem tentar não tê-la. A solução será entender de onde ela vem, aceitar as causas como fato, tentar fazer o que for possível, e acolher os fatos. Clareza de ideias, de emoções e de suas causas nos acalma.
Não é internalizar uma ideia ou ensinamento, mas entender nossas feridas e problemas, os sofrimentos causados por eles e todas as mudanças necessárias que vieram com esses sofrimentos também.
A Bhagavadgita e Krishna querem trazer uma mudança em nosso olhar, somente isso. Quando vemos um problema de forma mais ampla, mudanças ocorrem naturalmente.
Bem, acho a palavra iluminado difícil de se entender. Entendo que, ao usar a palavra, a pessoa queira dizer que a mente da pessoa antes estava na escuridão que é ignorância da realidade absoluta, e que, através de estudo, tenha então luz, clareza.
Então, seria sim, as pessoas que têm constantemente a clareza do autoconhecimento seriam chamadas de iluminadas. E sim, seria a característica da liberação final, de acordo com os Vedas.
Em termos de autoconhecimento, acho que existem algumas pessoas que possuem clareza. A questão é que somente a própria pessoa pode saber se ela possui o conhecimento claro. Outras pessoas não poderão ter certeza.
E além disso, o conhecimento claro vem junto com características de total acolhimento de todas as pessoas, ausência de mentira e falsidade, e total compromisso com o dharma. E somente a própria pessoa poderia saber de si mesmo.
Jiva é o indivíduo e possui um corpo físico limitado, uma mente e um inconsciente. Isso sabemos, experienciamos. Ishvara é tudo o que existe, todo o universo e a causa dele.
Para nos ajudar a entender o que é tudo, todo o universo, referenciamos jiva, que é conhecido por nós e por isso torna-se uma referência.
Essencialmente jiva e Ishvara são Brahman, são idênticos. Mas a forma de Ishvara é todo o universo físico (que é o corpo físico dele), todos os pensamentos e emoções possíveis, existentes (a mente cósmica), e o inconsciente todo, que é o não-manifesto todo.
Então, assim como jiva tem um corpo, uma mente, um não-manifesto, Ishvara também tem a forma física, sutil e não-manifesta, porém não um corpo e uma mente, mas a soma total de todos os corpos, isso é, todo o universo físico; a soma de todos os pensamentos e emoções; e a soma de tudo que é não-manifesto.
Advaita Vedanta é um meio de conhecimento para se saber o que é o Eu, em sua natureza essencial, livre de formas. Advaita Vedanta quer explicar sobre o Eu e conduzir a pessoa ao entendimento.
Não é uma proposta de quem sou eu. Não se sabe outro corpo de conhecimento que tenha essa mesma visão do Eu como livre de forma e eterno, e uma metodologia de estudo do Eu livre de forma e de papéis.
Advaita Vedanta não é uma filosofia, mas a apresentação de uma visão original e completa sobre o Eu. Em geral, filosofias apresentam uma visão de deus, do indivíduo e do universo. Advaita Vedanta fala sobre uma realidade única que é a essência do indivíduo, deus e o universo.
O desejo é importante. Na vida temos que ter desejos; uns são fortes, outros momentâneos ou mais suaves.
Existem desejos que cegam a pessoa pois a pessoa ignora os meios de satisfaze-los, ignora o dharma. Mas sem desejo nada fazemos. Para agir temos que querer, e querer é desejo.
Vedanta não diz que não devemos ter desejos, dizemos que devemos estar livre de desejo, o que quer dizer o desejo não deve nos aprisionar, não deve dominar nossa mente a ponto de nos levar a fazer adharma.
Brahman é livre de desejos. Mas o ser humano terá sempre desejo, o sábio não está aprisionado aos desejos. O maior desejo de uma pessoa é pela liberação, moksha.
Sou Consciência que é livre de limitação, sou completo por natureza.
Enquanto vivos, nos identificamos com o corpo-mente e suas características. Sofremos nessa identificação inevitavelmente.
Quando entendemos nossa verdade essencial e básica, podemos nos identificar com o corpo-mente, mas sabemos que somos mais do que corpo-mente. Com isso podemos viver na dualidade do mundo e estar tranquilo por entender que sou a fonte de toda felicidade.
Nossa vida tem como objetivo descobrir a verdade do Eu que sou.
O prana é o elemento Ar. O elemento mais sutil é o Espaço. A seguir, o Ar.
Ao adquirir o autoconhecimento não há necessidade de outro nascimento, pois o objetivo dos nascimentos é a aquisição do autoconhecimento. Porém não proíbe outros nascimentos.
A pessoa pode nascer para ajudar outros. E se a pessoa possui desejo de renascer, o próprio desejo torna-se causa para que haja mais nascimentos.
Vedanta analisa o Eu do ponto de vista absoluto, o Eu imutável que é Brahman, não nasce, não morre, não faz ação nem recebe o fruto da ação.
Mas o Eu, que é livre de limitação, se identifica com o corpo e a mente e se sente limitado; limitado pelas características, gunas, que constituem o corpo e a mente.
O objetivo do estudo de Vedanta é entender que, apesar da identificação com o corpo e mente, o Eu já é livre. Se faz necessária uma compreensão e não uma mudança.
Tudo que existe é Consciência. E como num sonho o universo é criado pelo poder de Maya, que é o poder de tornar o impossível possível de acontecer. A mente, cósmica e dentro dela a pessoal, é a primeira projeção de Maya.
Os pensamentos são Consciência. Mas em nossa percepção no universo dual é uma sequência de imagens chamadas pensamentos.
Os pensamentos são a Consciência, mas se olhamos para eles dizemos que eles existem e são sutis pois têm a capacidade de refletir a Consciência, ao contrário do corpo físico que não reflete a Consciência.
Geralmente o que nos faz agir em oposição aos valores é mesmo falta de clareza e insegurança.
Mesmo entendendo, dizem os shastras, existe em nossa mente inconsciente um hábito antigo de agir automaticamente de determinada maneira. Isso porque vimos, no passado, que a atitude nos protege de sofrer.
Então, precisamos agir deliberadamente por algum tempo, conscientemente, para podermos mudar esse hábito. Mas não se pode determinar por quanto tempo seria necessário, pois depende de vários fatores.
Um deles é quanto tempo levamos para estabelecer o hábito em nossa mente.
O sentimento de culpa de não ter feito a ação perfeita que levaria ao resultado perfeito que gostaríamos é normal, é comum.
Por isso o shastras falam em ter a atitude de prasada-buddhi, de receber o resultado da ação como perfeito em relação à ação feita. E apreciar Ishvara que é a ordem cósmica que produz o resultado adequado a cada ação realizada.
Tendo escolhido a ação, deixe que o resultado correspondente virá. E tente ver que o que vem a cada momento para você tem uma função, um porquê.
Primeiro temos que entender os níveis de realidade de qual estamos falando.
No nível absoluto não há ação, nem criação.
No nível relativo, temos Ishvara, o criador, a criação e o indivíduo.
A ação limita o indivíduo no sentido de que ele fica amarrado ao resultado da ação. Há vida no universo, no processo de fazer ação e receber o seu resultado.
A ação faz parte do universo que é Ishvara, Shiva. Estamos como indivíduo ligados inevitavelmente à ação. Somente enquanto Brahman somos naturalmente, sem esforço, livres da ação.
Asteya, no Yoga, é não roubar, seja algo material, tempo, etc considerando algo material, uma vez que alguém rouba, já estou considerando que este algo é meu, de certa forma é uma posse? Seguindo para a relação conjugal, por exemplo, hoje muitas pessoas estão buscando a não monogamia como um modelo que trabalha essa não posse. Não buscar esse modelo seria um Apego?
Resposta
É verdade, é uma linha tênue que separa apego de cuidado, de preservar coisas significativas. Apego nos limita ao objeto ou a uma pessoa. A tristeza e o sentimento de perda, de carência são imensos.
O cuidado é a responsabilidade de cuidar, o prazer de ter o objeto ou a pessoa perto de nós, mas com o entendimento de que podemos perdê-los a qualquer momento pois não nos pertencem, não temos domínio sobre a permanência ou ausência ou mudança deles. Cuidar, preservar, guardar é importante.
Mas temos sempre que lembrar que nada no universo nos pertence de fato e não temos domínio sobre nada nem ninguém.
Asteya é não roubar, não tirar o que é do outro sem mencionar que é do outro.
No mundo existe uma posse relativa de pessoas e objetos. Isso é inevitável.
Não é para considerar que nosso corpo, casa, marido, esposa, etc são dos outros também. Mas é entender que de forma absoluta nada é totalmente nosso; mas apesar disso devemos cuidar muito bem e guardar, preservar.
Numa relação, união e casamento existem vários conceitos dependendo da cultura. A escolha é cultural. Muçulmanos homens casam oficialmente com várias mulheres desde que possam dar cuidado e atenção a todas.
No Brasil, pela lei não é aceitável. A monogamia é a escolha em nossa sociedade. Isso não implica em apego, é uma escolha de ambas as partes.
Em muitos casos temos que analisar para entender com clareza.
Muitas vezes não conseguimos ver com clareza. Nesses casos é bom buscar ajuda de alguém que não está envolvido com o caso para nos ajudar a pensar.
No Vijnanamaya está a noção de eu e meu. Então, o ahamkara faz parte sim do Vijnanamaya.
Brahman e Atman são idênticos, são a mesma coisa, mas com palavras diferentes pois Brahman faz referência à Consciência livre de limitação; Atman faz referência à Consciência do indivíduo. Mas a Consciência é uma única.
Por isso dizemos que Atman é Brahman.
Os animais chamados irracionais têm existência e consciência, mas seguem um padrão de ação determinado por sua espécie, sem o intelecto, sem escolha.
Mas têm a mesma essência que nós, indivíduos racionais, com intelecto e livre escolha.
A liberação nos Vedas chama-se moksha. Em Advaita Vedanta, a liberação é através do autoconhecimento; o entendimento claro e bem estabelecido de quem sou eu, a verdade essencial do eu. Esse conhecimento não é intelectual.
Diz o livro Tattvabodha e a tradição oral, que quando se morre após a aquisição plena do conhecimento, não há renascimento pois não há mais necessidade de outra vida.
Mas quando existe na pessoa ainda o desejo de viver, de nascer e viver, haverá novo nascimento, até que o desapego seja total.
Moksha e não nascer de novo não é uma ameaça, é fruto do desligamento total do ser individual, desligamento de realizações, sejam de prazer ou de bem-fazer aos outros.
Na visão dos Vedas, o sofrimento é devido ao não conhecimento de quem sou, e a consequente identificação com o corpo, mente e intelecto, que são limitados e não são o eu, são objetificáveis e, portanto, objetos.
A vida é rica, bela, encantadora. Sem a noção de identidade não há vida. Porém, em determinado momento a pessoa vai buscar algo a mais e desejar se libertar do processo contínuo de nascer e morrer.
Para essas pessoas, a liberação ou moksha através do conhecimento é oferecida. Sem esse desejo ardente as pessoas continuam na vida dual.
Quando, em determinada vida, há a liberação, o grupo de karma adquirido em todas as vidas é anulado, pois não há identificação com o ahamkara, o ego. E quando o corpo morre, não há karma para produzir novo nascimento.
O ideal é aprender com alguém, pois há vários detalhes. Mas se tiver um altar em casa, pode diariamente fazer oferecimentos de incenso etc. Pode oferecer os cinco itens da puja. Junto com as flores pode cantar algum mantra ou verso mais simples. O livro de Puja da professora Gloria pode ajudar.
Tudo no universo é percebido como é. Na minha mão há uma pedra. Tirando a pedra, não há pedra, o que quer dizer que a ausência da pedra também é. Olhamos e não vemos o que não está lá. Vemos que a ausência do objeto existe. A não existência é. A existência é. É isso que vemos e percebemos.
Não é correto dizer: Ausência de objeto não é (já que não há objeto). Não há objeto, portanto, a ausência do objeto é.
Se a ausência não é, então há uma presença. Então, já que não há objeto, a ausência dele é uma verdade.
O que é sat: sempre existente, e cit: consciência. Isso quer dizer que o que existe sempre, sem deixar de existir, é consciência.
Sat e cit não são qualidades como uma casa grande e verde. Nesse caso grande e verde são qualidades. A casa pode existir depois como grande e azul.
Mas aqui, o que é sat é cit; não são duas coisas diferentes nem separadas.
Não são exatamente sinônimos. São duas palavras que apontam para o que a realidade é. É livre do tempo, por isso sat; e livre de forma, por isso cit.
São conceitos difíceis pois são diferentes de nossa forma comum de pensar. Demora um tempo para entendemos o que exatamente querem dizer.
Nossa recomendação é que você comece por Introdução ao Vedanta. Este livro contém uma série de palestras que Swami Dayananda deu no Rio de Janeiro e que foram gravadas, transcritas e organizadas pela professora Gloria Arieira. As palestras foram para um público composto não apenas de alunos de Vedanta, mas também para todos os que se interessaram pelo tema, ainda que não tivessem conhecimento e/ou estudo prévio do assunto. Portanto, é bastante acessível mesmo para quem ainda não iniciou o estudo de Vedanta.
Em seguida, o Tattvabodha. Swami Dayananda sempre aconselhava começar por este livro, que contem termos e definições que você vai encontrar posteriormente no estudo de Vedanta.
Os demais podem seguir em qualquer ordem, temos certeza de que serão apreciados.
Não existe formação para ser professor de Vedanta. Estudamos Vedanta para nós mesmos. Dar aula pode ser uma consequência ou não.
Pode-se estudar, e aos poucos dividir o que aprendeu com outras pessoas.
Yoga tem formação para professor, mas Vedanta não tem.
A diferença entre as duas edições é que o volume único contém os versos em devanagari, a transliteração e a tradução do Sânscrito para o Português. Não tem a tradução do verso palavra-por-palavra e tem um resumo mais curto de cada capítulo. A edição em três volumes, além da tradução dos versos palavra-por-palavra, contém o resumo e comentários da professora para cada capítulo.
A metodologia é a seguinte: a professora lê o verso em Sânscrito, os alunos repetem, e em seguida ela explica e comenta o verso. Podem ser feitas perguntas no final da aula. A aula tem a duração de aproximadamente 1h15min.
Os purusharthas, objetivos da vida, que são 4, podem acontecer simultaneamente.
Muitas vezes a busca é de artha e kama; outras é de artha, kama e dharma; poucas vezes aontece as 4 buscas juntas, paralelamente.
A questão é saber o que é mais importante na vida, pois se houver conflito entre os objetivos, a pessoa elegerá o que for mais importante para ela.
Existe realmente uma linha bastante tênue entre valores. Valores não são absolutos e ainda algumas vezes se opõem.
Não ferir o outro tem que incluir não ferir a si mesmo também. No processo da disciplina de não ferir, teremos que usar o exercício de viveka, questionamento, e vairagya, a capacidade de deixar de lado o que de fato não é o mais importante.
Falar a verdade é quando se escolha falar, que haja a verdade; ou opta-se por ficar calada, pois esse é um direito também.
Se resolver falar, que seja a verdade, de forma agradável, sem ferir o outro, que seja algo necessário e benéfico de ser dito, e quando se disser que as palavras usadas não façam o ouvinte reagir.
O estilo de vida que Vedanta sempre menciona como importante é Karma Yoga, ter seu objetivo claro, focar nele, viver uma vida normal de relacionamentos afetivos e de família na sociedade, e sempre buscando o seu dharma, fazer o que deve ser feito, e uma vez a escolha da ação feita, prepare-se para receber o que vem para você sem reclamar nem culpar você mesma ou outra pessoa.
A reverência ou o respeito não dependem de atos; tampouco o amor para existir depende da expressão dele, mas é bom quando a emoção ganha uma expressão; bom para quem dá e para quem recebe.
A expressão é cultural, depende da cultura a que se pertence.
Então, nós ocidentais não temos que expressar o respeito, a reverência nem o amor da mesma forma que um oriental. Mas é bom expressar de alguma forma, caso a emoção exista; de outra forma, como o outro poderá entender?!
Temos duas funções - a mente e o intelecto. Os dois trabalham juntos e têm funções diferentes.
A mente é oscilante, o intelecto é afirmativo. Os dois são importantes.
Quando afirmamos em nós que algo é importante, o intelecto trabalha para essa afirmação; a argumentação será sempre lógica, mas não por isso correta, necessariamente.
A lógica intelectual pode concluir que agir de determinada maneira facilita a própria vida, e essa conclusão se estabelece. Ou a lógica pode ser de que se eu fizer isso o outro vai me tratar melhor, e a conclusão intelectual será de fazer algo. Intelecto não quer dizer sabedoria, nem conclusão acerta. É somente uma afirmação que se constitui para uma pessoa.
A mente é emotiva, funciona conforme as emoções, que estão sempre em movimento.
A mente impulsiona a ação, a partir do que o intelecto estabeleceu. A mente é mais forte do que o intelecto quando se refere a ações escolhidas; a menos que a escolha seja precedida de um "parar e pensar e decidir".
Por isso, Vedanta diz que o questionamento é muito importante pois colocamos em questão as afirmações já estabelecidas na mente, e revisamos cada uma à luz de Vedanta.
A lógica tem um processo lógico. Afirmação, argumentação, exemplo e conclusão.
"Não faça isso porque você vai se machucar", apesar de usar um porque (um argumento) e poder até dizer um exemplo: "como naquele dia que você se machucou ao subir na cadeira", não é lógica.
É uma firmação dita seriamente, onde se usa um porque, mas não tem argumento lógico.
"Deus não existe porque não o vejo, tudo que existe eu posso ver", também não é lógica. É uma afirmação, mas não definitiva.
Podemos ser mais exigentes quando ouvirmos uma argumentação formal que parece sensata. Nesse setor temos que ser bem exigentes.
A alimentação, como todas as escolhas em nossa vida, deve ser alinhada com nosso raciocínio e possibilidades. Não ferir o outro é importante; mas ter boa saúde e comer o que está disponível onde moramos é muito importante.
Em vários lugares na área de Calcutá/Kolkata não há muita opção de legumes. Grande número de brahmanes da área são considerados vegetarianos comendo peixe, pois a maior opção de alimento é o peixe.
É importante como o animal que se está comendo foi morto, se muito sofrimento foi produzido no animal, ou não.
No Ayurveda vemos a escolha de alimentação adequada baseada no estilo de vida da pessoa e nos seus doshas.
Pior é fazer da escolha pelo vegetarianismo uma ferramenta de se sentir mais espiritual do que os outros e promover essa bandeira. A atitude e a aceitação do outro como ele é (e não necessariamente do que o outro faz) é mais importante.
A respiração e a mente estão ligadas. Uma pode agitar ou acalmar a outra.
Geralmente tanto a mente como a respiração vão se acalmando no processo de meditação, e tentamos muitas vezes acalmar a mente através da respiração no início da meditação.
O controle respiratório não é indicado no início da meditação, mas uma respiração profunda com a expiração no dobro do tempo da inspiração pode ajudar, e a seguir, observar a respiração também ajuda.
Sri Ramana Maharshi fala sobre isso no seu upadesha-saram, a essência do ensinamento.
A liberação é através do conhecimento pois a causa básica do sofrimento e da limitação é a ignorância de si mesmo.
Mas existe um processo até a aquisição do conhecimento. Primeiro a pessoa discernir o problema; entender que problemas com o mundo são inevitáveis na vida de todos pois tudo é dual e em constante transformação.
E, assim sendo, a liberação final, definitiva, não será possível através de alguma aquisição ou mudança, pois todas mudam, passam. É necessário ver que há um sofrimento básico humano.
Depois disso é necessário querer, e querer muito mesmo, resolver o problema.
Depois se faz necessário correr atrás da solução. Isso tudo pode demorar muito.
Depois, encontrar alguém que possa falar, explicar e ensinar sobre o problema e a solução. Então, se dispor a sentar e escutar. Entender e por fim assimilar o conhecimento, tê-lo claro para si mesmo.
No meio do caminho de tudo isso, adquire-se maturidade para o processo todo.
Sair do samsara só é possível entendendo que o samsara não é real. O eu já é livre em si mesmo, o samsara para o jiva é momentâneo e passageiro; um jogo interessante e necessário.
As palavras em sânscrito são traduzidas e explicadas nas aulas. Mas no início, com tantas palavras novas, é comum a pessoa ficar um pouco ansiosa.
Você pode anotar as palavras e seus significados para poder se referir a elas quando tiver dúvida. Mas, com paciência e perseverança, passamos dessa etapa e tudo vai ficando claro.
O método é esse mesmo. Não há outra possibilidade que não seja o tempo e a continuidade do estudo. E vale à pena o estudo pois são analisados muitos conceitos significativos.
Entendo que o Eu-Consciência é a verdadeira natureza de todos os personagens de nossa realidade. Entendo então que eu e todos os seres vivos contêm em si esse mesmo Eu, não sendo possível assim nenhum julgamento de valor, uma vez que se o Eu que me habita tivesse herdado sua genética e seus traumas, esse meu Eu seria exatamente você.
A memória individual não seria então um atributo do Eu? Não faria mais sentido a indivisibilidade da consciência e um Karma coletivo do universo, de nossa realidade?
Resposta
O eu, Atma, é um único e sem forma individual. Mas no universo se manifesta em forma física, o corpo físico, forma sutil, a mente e todos os pensamentos, e em forma não ainda manifesta.
O eu Atma não mantém registro de karma, é um e impessoal.
Mas a forma individual, o jiva, carrega ignorância de si mesmo e, portanto, conclusões erradas de si mesmo; e por isso sofre.
A libertação é saber que apesar da individualidade que é perecível, eu sou o Atma. A individualidade não é atributo do Atma pois o Atma existe sem a forma da individualidade. Porém a individualidade, o jiva, depende totalmente do Atma.
Quando dizemos que alguém não tem consciência, estamos dizendo que ela não tem conhecimento ou clareza, na mente.
Todos somos consciência, mas nos tornamos consciente, no mundo, na vida, através dos sentidos e da mente.
A luz básica que não se apaga é a consciência. Esta ilumina os sentidos e a mente, e por isso o indivíduo diz que é consciente.
A estimativa de duração do estudo de um texto é só isso mesmo: uma estimativa. As estimativas de duração dos cursos não vinculam nem aluno, nem professor. Assim, o estudo poderá ter duração inferior ou superior à estimada.
O estudo de vedānta não tem como proposta percorrer ou completar o estudo de textos, não é um programa acadêmico que se completa. O estudo de vedānta tem como proposta comunicar uma visão, desdobrando os textos.
Neste sentido, o andamento das aulas depende dos alunos que ouvem e vêm o professor, daquilo que o professor entende que deve ser aprofundado em cada momento e aquilo que deve ser abreviado. Esta apreciação faz com que cada texto possa ser mais ou menos elaborado e depende totalmente do método tradicional de ensino.
Tendo isto presente, pedimos que o ouvinte abra a mão de metas e permita-se simplesmente ouvir e ver.
O estudo de vedanta pode ser feito no contexto de um retiro residencial, num ashram, com a duração de 2 ou 3 anos com aulas presenciais diárias ou na forma de um estudo continuado conjugado com a vida da pessoa. No primeiro caso, o ritmo de estudo fica totalmente dependente do professor. No segundo caso, o aluno tem mais liberdade e também mais responsabilidade no delinear desse ritmo. O programa e sequência de estudo do Vidya Mandir visa servir a segunda opção, criando uma estrutura para que cada aluno possa fazer um estudo continuado, adaptado à sua vida que, pode ser complementado com o canto, o sânscrito, a meditação, festividades, puja e tudo mais, dependendo do interesse e disponibilidade do aluno. O Vidya Mandir cria as circunstâncias para um estudo sistemático e profundo. O grau de imersão depende do aluno.
Esta sequência dos textos de Vedanta a serem estudados tem base nos cursos programados por Sri Swami Dayananda.
Sequência:
1. Tattvabodhah 2. Upadesha-saram 3. Valores da Bhagavadgita cap. 13 4. Textos secundários como: Pancadashi, Sadhana-pancakam, Advaita-makarandah, Atmabodhah, Vivekacudamani, Vedanta-saram, Yogasutras à luz de Vedanta 5. Bhagavadgita 6. Kena Upanishad 7. Mundaka Upanishad 8. Katha Upanishad 9. Mandukya Upanishad 10. Outras Upanishads 11. Taittiriya Upanishad com o comentário de Sri Shankara 12. Brahmasutras
Esta sequência mencionada não é rigorosa, é uma orientação para o estudo de Vedanta, conforme seguimos no Vidya Mandir.
De fato não podemos misturar a realidade absoluta com a realidade relativa.
Saber que sou o absoluto Brahman não elimina minha humanidade nem as questões da vida.
Mas o que muda minha atitude frente à vida e aos acontecimentos do dia a dia de cada um é a atitude de karma yoga que inclui a apreciação de Ishvara que é a Ordem Cósmica.
A Ordem Cósmica governa ações e seus respectivos resultados.
O que acontece com cada um de nós é resultado de nossas ações feitas nessa vida e em outras.
Receber o que acontece conosco e agir adequadamente é karma yoga.
Agir sem apego ao que quer ou não quer, mas fazendo o que deve ser feito, o melhor possível a cada momento. Isso é karma yoga, e exige a apreciação de Ishvara.
Arjuna estava sofrendo pois não queria matar o mestre e o avô no campo de batalha.
Não era entrar na casa do mestre ou do avô e matá-los.
Era fazer parte da guerra que foi a única opção para a justiça se reestabelecer.
E infelizmente o mestre e o avô estavam no lado do dharma, da injustiça.
Arjuna não queria matar, mas sabia que ao ir para a guerra ele teria que acabar matando.
Sofrer porque não quer matar parentes e entes queridos é legítimo.
Mas lutar na guerra, que foi a opção dada pelo avô e o mestre para resolver a questão do reino, é adequado.
Ele preferia que não houvesse guerra, mas ao haver a guerra Arjuna tinha a obrigação de participar.
A questão é do dharma, não é emocional, de sofrer porque não quer matar pessoas queridas.
O entendimento de que existe uma Ordem Cósmica que é chamada Ishvara não é uma questão de fé; exige entendimento e confiança.
Entendimento de que toda ação tem uma resposta, um resultado. O resultado pode vir logo ou mais tarde.
Quando o resultado vem rápido compreendemos a relação entre ação e resultado.
Quando o resultado vem muito depois da ação feita, não conseguimos entender de onde aquilo veio trazendo sofrimento ou alegria.
Ação e resposta estão presentes e são vistas na natureza. Tratamos mal os rios e eles ficam poluídos, secam etc.
Na nossa vida também; nossas ações geram resultados.
Isso não é questão de fé, é entendimento.
Então, quando uma situação indesejada vem para nós, podemos entender que tem relação com alguma ação minha do passado. O que não nos impede de fazer outra ação para neutralizar ou mudar o que veio.
Quando entendemos Ishvara, a Ordem Cósmica, temos tolerância e acomodação com o que acontece conosco, ainda que possamos sofrer.
Ishvara não manda situações para nós, não faz nada, é uma Ordem inteligente que governa o universo; ordem física, emocional, mental, intelectual.
O karma yogi entende Ishvara, sente alegria e tristeza, mas tem a capacidade de acomodar o que vem.
Esse verso da Bhagavadgita é mesmo difícil de entender.
A palavra morte, “é preferível a morte”, tem relação com o pior possível que pode acontecer naquele momento da guerra.
A intenção é dizer que por mais difícil que seja fazer o que é seu dharma, é importante que ele seja feito.
O dharma do outro pode ser mais fácil, mas não é o seu dharma.
Então a mensagem é de que na vida o mais importante é fazer o próprio dharma.
Fazer o dharma de outra pessoa traz perigo pois fazendo o de outra pessoa você deixaria de fazer o seu próprio, convencida de que está fazendo certo.
Esse é o perigo - fazer o errado achando que está fazendo o certo.
Buddhi, citta, manas e ahamkara constituem a mente, são pensamentos.
Manas oscila, buddhi é o pensamento de decisão, afirmação.
Por “detrás” há a consciência que é presença e nada faz.
Sim, essa é a função de buddhi.
Mas não devemos esquecer que a mente é um todo; os quatro nomes dados representam os quatro tipos de pensamento. Não são quatro compartimentos da mente.
Vedanta é a parte final dos Vedas onde se encontram as Upanishads.
Os Vedas são a base para toda a tradição védica, para todos os conhecimentos ligados aos Vedas, como Yoga, Ayurveda, dança, música, engenharia, arquitetura etc.
Samadhi é mencionado nos Vedas, em Vedanta. É um momento natural em que a pessoa está consigo mesmo, o Atma, e reconhece isso.
Evidentemente podem existir vários tipos de samadhi.
O samadhi não é exatamente um fenômeno, tão pouco transcendental.
É um momento de evidência da natureza do eu como pura consciência sempre existente.
Esse “momento” não evidencia o corpo ou a mente, que são objetos, que são objetificáveis, como o significado da palavra eu. Porém, pode parecer que se ultrapassa o corpo e a mente e por isso fala-se transcendência, um “ir além de” corpo e mente. Mas há somente a percepção de que sou o Atma e não sou o corpo ou a mente.
Para Vedanta o meio para a libertação da limitação, o meio para moksha, é o autoconhecimento e não, o samadhi.
Citta é mente, pode significar memória em algum contexto específico; smrti é memória.
A Consciência não tem problema. O veículo de manifestação da Consciência pode ter algum problema. Sim.
Pessoas que usam algum tipo de psicotrópico podem ter experiências diferentes. Se conduzidas de forma espiritual poderá ter experiência espiritual. A mente possui tantos registros que qualquer tipo de experiência será possível.
Não se preocupe por sentir sono. Isso é normal. A mente relaxa tanto que o sono vem.
As vezes relaxa por causa do assunto que aquieta a mente, às vezes porque a voz é agradável e acalma.
Relaxar numa aula de Vedanta é bom.
Consciente ou inconscientemente você está escutando. Não se preocupe, isso certamente vai mudar, continue e aproveite o que você consegue focar bem.
Acontece com frequência.
Tattva quer dizer a verdade, o que é real.
Satya ou satyam é também a verdade.
Sattva é uma qualidade, guna, da natureza. Vem junto com rajas e tamas.
Sattva é o que é sutil, transparente. Também pode ser a mente, pois é constituída de pensamentos que são sutis.
Gramaticalmente pode ser a realidade também pois deriva-se de: sat tvam = o estado de ser real.
O Dharma é mesmo muito difícil de determinar algumas vezes.
O Dharma pode ser samanya, geral, como o que devemos fazer com relação a qualquer pessoa. São os valores universais de falar a verdade, não agredir as pessoas etc.
E o Dharma pode ser vishesha, específico, como a forma de agir em determinado relacionamento com pessoas e conosco em situações diferentes.
A vivência de sua aluna com o skate a fez ir além de várias dificuldades pessoais. Talvez, agora, nesse momento, ela precise de fazer novos questionamentos sobre si e suas escolhas; e a lesão no joelho a fez parar para refletir.
O Dharma, a maneira melhor para escolhermos nossas ações, tem foco no respeito a si e aos outros principalmente.
O cuidado com nosso corpo e mente é muito importante. Sem corpo e mente cuidados, nada se torna possível de ser realizado.
Nem riquezas, fama, prazeres, tampouco moksha poderão ser conquistados.
Mas desistir não faz parte da escolha por moksha. A escolha principal pode ser moksha; as escolhas secundárias devem alimentar a escolha por moksha, não antagonizá-la.
Penso que sua aluna pode escolher cuidar do corpo, da lesão no joelho, pensando em ficar boa para continuar com o skate. E se não for possível continuar com o skate, considerar qual seria outra atividade boa, agradável, prazerosa que faça bem a ela.
Trocar uma atividade esportiva por outra, mas não desistir.
Que bom saber que você está estudando Vedanta com os cursos gravados da Plataforma, e também que você está gostando das aulas.
De fato, no estudo de Vedanta estamos sempre muito atentos à escolha e ao uso das palavras, a comunicação clara é muito importante.
Você pode seguir devagar e constantemente seu estudo de Vedanta. Mais do que muitas aulas e um curso intensivo, é importante a constância e o entendimento, além da assimilação do que foi entendido.
Não se preocupe em entrar numa aula ou curso regular. O estudo que você está fazendo, com aulas gravadas, no seu tempo, está ótimo.
Você poderá aprofundar seu conhecimento de Vedanta sem o estudo de sânscrito. Aos poucos seu entendimento das palavras sânscrito vai aumentar. E quando você se dedicar ao estudo da língua sânscrita, você vai gostar muito, tenho certeza.
Vedanta explica três ordens de realidade:
A realidade absoluta
Que é Brahman, uma única realidade e imutável, sempre presente.
A realidade relativa
Que é o mundo em que vivemos, que é dual e no qual tudo muda constantemente
A realidade subjetiva
A visão de cada pessoa, que inclui pontos de vista, gostos e aversões.
Apesar de muitas vezes o mundo parecer fabricado por nossa mente, ele tem uma realidade relativa que é vista por todos nós. Essa é a realidade objetiva, os fatos que se apresentam.
Mas muitas vezes o ser humano não vê fatos, mas percebe suas visões ou interpretações pessoais e pensa que são os fatos.
Temos que entender bem essas diferenças.
Nitya quer dizer eterno, sempre existente.
Mithyā quer dizer não real, aparentemente verdadeiro.
São palavras bem diferentes.
Mas em termos de som, podem confundir.
O Dharma é muito difícil de ser entendido. O que é adharma também é difícil.
Para nos ajudar temos a análise do que são e as histórias que nos são relatadas.
Temos o svadharma, ou viśeṣa dharma, o que deve ser feito por cada um de nós em nossos relacionamentos e funções na sociedade.
E o sāmānya dharma, com relação aos valores universais, que precisam ser entendidos.
O valor de um valor clássico, que é o que esperamos dos outros. Conforme Swamiji explica no livro O valor dos valores.
Tendo entendido isso, passamos para a vida de cada dia. E nossas escolhas devem ser de acordo com o dharma. Se o dharma e o desejo estão em harmonia, é ótimo e fácil escolher.
Se o desejo se opõe ao dharma, deixamos o desejo de lado e optamos pelo dharma.
Muitas vezes é difícil. Muitas vezes não há opção do correto e temos que escolher o menos ruim.
O assunto é difícil mesmo, quando se trata de Ishvara.
Veja: quando falamos sobre a realidade absoluta do universo, do criador e dos seres, há uma única realidade que é Brahman.
Brahman não se transforma, não possui limitação, assim sendo, também não cria.
Mas olhando do ponto de vista da criação, a causa de tudo é Brahman. Mas como Brahman não sofre transformação, a manifestação do universo, que é a partir de Brahman, só é possível como algo que não é absoluto, mas que aparece e desaparece constantemente, isso é: está em constante transformação.
Brahman com essa aparente mágica, um poder “mágico”, é Ishvara, a causa da criação, chamado de criador.
Brahman é o criador a partir da criação, de seu ponto de vista não cria nada.
É difícil de entender pois nossa mente funciona dentro da dualidade — ou é isso ou aquilo!
Eu sou tudo que existe como o barro é a verdade de todos os potes de barro.
Mas, enquanto um pote, que é a forma (e não a realidade essencial), meu poder é limitado.
Os purusharthas, objetivos da vida, que são 4, podem acontecer simultaneamente.
Muitas vezes a busca é de artha e kama; outras é de artha, kama e dharma; poucas vezes acontece as 4 buscas juntas, paralelamente.
A questão é saber o que é mais importante na vida, pois se houver conflito entre os objetivos, a pessoa elegerá o que for mais importante para ela.
Os conflitos seriam com relação ao que é mais importante: seria artha, seria kama, ou seria dharma.
A pessoa pode buscar Moksha independente da clareza sobre a importância do Dharma, porém, nem Moksha nem Dharma estarão como o mais importante na vida.
Existe realmente uma linha bastante tênue entre valores. Valores não são absolutos e ainda algumas vezes se opõem.
Não ferir o outro tem que incluir não ferir a si mesmo também. No processo da disciplina de não ferir, teremos que usar o exercício de viveka, questionamento, e vairagya, a capacidade de deixar de lado o que de fato não é o mais importante.
Falar a verdade é quando se escolha falar, que haja a verdade; ou opta-se por ficar calada, pois esse é um direito também.
Se resolver falar, que seja a verdade, de forma agradável, sem ferir o outro, que seja algo necessário e benéfico de ser dito, e quando se disser que as palavras usadas não façam o ouvinte reagir.
A escolha é sempre sobre o que vai ferir menos os outros e a si mesmo, ao mesmo tempo. Não é uma escolha de ferir o outro ao invés de a mim mesma. Não seria "ou", seria ambos, "e".
Se a verdade é uma escolha para você, em sua vida, isso é muito bom. Mas se ela se expressar, deve ser útil e de forma não agressiva ao outro, sem ofender, nem pressionar.
Devemos mudar a nós mesmos; os outros devem cuidar de si mesmo (a menos que sejam incapazes). Podemos no máximo inspirar os outros com nossa conduta.
O estilo de vida que Vedanta sempre menciona como importante é Karma Yoga, ter seu objetivo claro, focar nele, viver uma vida normal de relacionamentos afetivos e de família na sociedade, e sempre buscando o seu dharma, fazer o que deve ser feito, e uma vez a escolha da ação feita, prepare-se para receber o que vem para você sem reclamar nem culpar você mesma ou outra pessoa.
A reverência ou o respeito não dependem de atos; tampouco o amor para existir depende da expressão dele, mas é bom quando a emoção ganha uma expressão; bom para quem dá e para quem recebe.
A expressão é cultural, depende da cultura a que se pertence.
Então, nós ocidentais não temos que expressar o respeito, a reverência nem o amor da mesma forma que um oriental. Mas é bom expressar de alguma forma, caso a emoção exista; de outra forma, como o outro poderá entender?!
O ego é a personalidade - a soma das emoções e dos entendimentos - e constitui a beleza do ser humano.
Temos duas funções - a mente e o intelecto. Os dois trabalham juntos e têm funções diferentes.
A mente é oscilante, o intelecto é afirmativo. Os dois são importantes.
Quando afirmamos em nós que algo é importante, o intelecto trabalha para essa afirmação; a argumentação será sempre lógica, mas não por isso correta, necessariamente.
A lógica intelectual pode concluir que agir de determinada maneira facilita a própria vida, e essa conclusão se estabelece. Ou a lógica pode ser de que se eu fizer isso o outro vai me tratar melhor, e a conclusão intelectual será de fazer algo. Intelecto não quer dizer sabedoria, nem conclusão acertada. É somente uma afirmação que se constitui para uma pessoa.
A mente é emotiva, funciona conforme as emoções, que estão sempre em movimento.
A mente impulsiona a ação, a partir do que o intelecto estabeleceu. A mente é mais forte do que o intelecto quando se refere a ações escolhidas; a menos que a escolha seja precedida de um "parar e pensar e decidir".
Por isso, Vedanta diz que o questionamento é muito importante pois colocamos em questão as afirmações já estabelecidas na mente, e revisamos cada uma à luz de Vedanta.
A lógica tem um processo lógico. Afirmação, argumentação, exemplo e conclusão.
"Não faça isso porque você vai se machucar", apesar de usar um porque (um argumento) e poder até dizer um exemplo: "como naquele dia que você se machucou ao subir na cadeira", não é lógica.
É uma firmação dita seriamente, onde se usa um porque, mas não tem argumento lógico.
"Deus não existe porque não o vejo, tudo que existe eu posso ver", também não é lógica. É uma afirmação, mas não definitiva.
Podemos ser mais exigentes quando ouvirmos uma argumentação formal que parece sensata. Nesse setor temos que ser bem exigentes.
A alimentação, como todas as escolhas em nossa vida, deve ser alinhada com nosso raciocínio e possibilidades. Não ferir o outro é importante; mas ter boa saúde e comer o que está disponível onde moramos é muito importante.
Em vários lugares na área de Calcutá/Kolkata não há muita opção de legumes. Grande número de brahmanes da área são considerados vegetarianos comendo peixe, pois a maior opção de alimento é o peixe.
É importante como o animal que se está comendo foi morto, se muito sofrimento foi produzido no animal, ou não.
No Ayurveda vemos a escolha de alimentação adequada baseada no estilo de vida da pessoa e nos seus doshas.
Pior é fazer da escolha pelo vegetarianismo uma ferramenta de se sentir mais espiritual do que os outros e promover essa bandeira. A atitude e a aceitação do outro como ele é (e não necessariamente do que o outro faz) é mais importante.
Todos buscamos a felicidade. Independente do meio no qual focamos para a felicidade.
Se a pessoa já está feliz com a vida espiritual, que ótimo.
Se a pessoa está buscando estar feliz e não consegue, aí os Vedas apresentam um questionamento e uma visão da natureza do eu.
Se não há problema para a pessoa, ela não precisa correr atrás da solução.
A busca do compromisso com o Dharma e com Moksha exige questionamento e entendimento. A grande maioria das pessoas busca prazeres na vida somente, momentos alegres. É a maturidade emocional que conduz a questionamentos.
Para uma maturidade não basta somente viver, mas entender o que se quer na vida e entender o que se pode fazer para alcançar; e, evidentemente, fazer.
É verdade, a família é nosso maior desafio e nosso maior suporte, geralmente.
Através das identificações e diferenciações entendemos mais de nós mesmos.
Mas, muitas vezes, a família se identifica tanto como uma unidade que não aceita que um de seus membros faça escolhas diferentes.
Parece que essas escolhas afetam os outros, mas na verdade deveriam afetar somente aquele membro. É nessa hora que se faz necessário a acomodação.
Sobre espiritualidade e política, a confusão é grande.
Já ouvi dizer que todo yogi ou yogini tem que ser de esquerda. E outras pessoas enfaticamente dizendo o contrário.
Yogi ou yogini é a pessoa que valoriza o Yoga e uma vida de Yoga.
Escolhas políticas são pessoais e enfatizam algum ponto significativo em determinada época.
Devido a determinada ênfase a favor ou contra uma posição, as escolhas são feitas. E sempre haverá discussões pois os pontos de vista são diferentes.
Na Índia é dito que muitas pessoas espiritualizadas são da chamada direita, ou até extrema direita. Mas essas pessoas nos Estados Unidos podem ser de esquerda.
Não é uma escolha absoluta; o raciocínio para a escolha é pessoal.
Mas a verdade é que tem gerado desentendimento e, pior ainda, brigas definitivas nas famílias e nos círculos de amizades.
Aqui também devemos considerar a escolha livre de cada um sem querer converter o outro. Tanto quanto na religião, ou até mesmo quanto ao time de futebol.
A respiração e a mente estão ligadas. uma pode agitar ou acalmar a outra.
Geralmente tanto a mente como a respiração vão se acalmando no processo de meditação. E tentamos muitas vezes acalmar a mente através da respiração no início da meditação.
Controle respiratório não é indicado no início da meditação. Mas uma respiração profunda com a expiração no dobro do tempo da inspiração pode ajudar. E a seguir, observar a respiração também ajuda.
sri ramana maharshi fala sobre isso no seu upadesha-saram, a essência do ensinamento.
Sair do samsara só é possível entendendo que o samsara não é real. O eu já é livre em si mesmo, o samsara para o jiva é momentâneo e passageiro; um jogo interessante e necessário.
Barulho é de fato um problema e grave quando não desaparece às 10 horas da noite, nosso horário bom para dormir.
É natural que você fique agitada. Qualquer coisa que agite os nossos sentidos vai nos perturbar muito. Perturba nossa mente e afetará a saúde.
Primeiro ver como praticamente parar o barulho, ou você minimizar o som que entra no lugar onde você dorme.
A seguir ver algo que tape seus ouvidos.
Sua agitação é natural. E a solução tem que ser algo para diminuir o barulho. E não para você se acalmar somente.
A liberação é através do conhecimento pois a causa básica do sofrimento e da limitação é a ignorância de si mesmo.
Mas existe um processo até a aquisição do conhecimento.
Primeiro a pessoa discernir o problema; entender que problemas com o mundo são inevitáveis na vida de todos pois tudo é dual e em constante transformação.
E, assim sendo, a liberação final, definitiva, não será possível através de alguma aquisição ou mudança, pois todas mudam, passam.
É necessário ver que há um sofrimento básico humano.
Depois disso é necessário querer, e querer muito mesmo, resolver o problema.
Depois se faz necessário correr atrás da solução.
Isso tudo pode demorar muito.
Depois, encontrar alguém que possa falar, explicar e ensinar sobre o problema e a solução.
Então, se dispor a sentar e escutar. Entender e por fim assimilar o conhecimento, tê-lo claro para si mesmo.
No meio do caminho de tudo isso, adquire-se maturidade para o processo todo.




