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Sem dharma não há Yoga


Sem o dharma não há Yoga. O dharma é fazer o que nos cabe, nossa parte em

cada situação que se apresenta, e, ao fazer essas e também as ações impulsionadas

pelo desejo, fazer respeitando os valores universais que sabemos bem quais são, pois

esperamos e exigimos dos outros!

Aqui e ali, uma palavra, uma ação ou um pensamento agressivo, raivoso, pode

acontecer, mas logo percebemos e nos sentimos desconfortáveis, culpados, nos

surpreendemos. São reações naturais dentro de determinadas circunstâncias, porém

nos dá desconforto. Quando não há desconforto, temos um sério problema – a não

percepção crítica de nós mesmos.

A reflexão sobre nós mesmos – nossos pensamentos, palavras e ações – demonstra uma maturidade emocional, necessária para a vida de Yoga. Os valores universais e o valor que eles possuem são explicados pelos mestres da tradição védica. Analisar e mostrar o valor de um valor é muito diferente de tentar convencer o outro a agir de determinada maneira.

Mas qual o valor que deve pontuar nossa vida? Poderíamos dizer que todos.

Todos aqueles descritos por Sri Patanjali na lista de yamas e niyamas; todos descritos por Sri Krshna no capítulo 13 da Bhagavadgita; todos mencionados por Sri Sankara no Tattvabodha; ou em diferentes Upanishads. Mas a verdade é que “todos” é uma palavra vaga, indefinida. Na Taittiriya Upanishad, vemos a discussão sobre qual o principal dharma, o valor maior. Um mestre, denominado Satyavaca, diz que o mais importante na vida é a verdade, satyam. Outro mestre, Taponitya, não concorda e diz que tapas, a ascese, é a maior disciplina na vida. Outro mestre, Naka, diz que o mais importante é svadhyaya-pravacana, estudar, cantar os Vedas e ensinar.

Nesta mesma Upanishad, o mestre faz um discurso para seus alunos que terminaram o estudo dos Vedas e diz que a vida deve ser vivida com trabalho, família, casamento, filhos e depois netos. Mas, a todo o momento, a vida de Yoga não deve ser esquecida, apesar das diversões e confortos. Isso porque a vida em sociedade transforma-se em vida de Yoga não por o que é feito, mas pela atitude com que é feito. E os mestres sabendo que é muito difícil o aluno lembrar-se de todos os valores mencionados e ensinados, sabem também que um valor puxa o outro e, assim, querem que um valor seja o foco diário. Um valor que, sendo considerado, chamará os outros. Esse será mahavratam, o compromisso maior. E qual deverá ser esse valor maior? Pela discussão entre os mestres, vemos que qualquer que seja o valor, não é aquele valor específico que fará a vida de Yoga, mas é o compromisso firme com um valor que fará a diferença.

Vejamos, se a pessoa tem compromisso com a verdade, ela estará atenta a seus pensamentos, às palavras ditas e ações feitas. Terá a atenção para que esses sejam verdadeiros; para que a palavra expresse o pensamento em sua mente, e a ação seja coerente com o pensar e o dizer. Esse compromisso ocupa a vida da pessoa em suas várias áreas e fases.

A verdade torna-se uma amiga, uma referência, uma protetora. Ao valorizar a verdade, tentamos não agredir o outro dizendo coisas que não são verdadeiras. E mesmo quando um desejo aparece exigindo uma mentira, a pessoa não se permite mentir, e isso será tapas, uma ascese.

Quando o compromisso é ahimsa, não violência, a pessoa terá a atenção ao que faz e diz para que não fira o outro, e a mentira é uma agressão, um desrespeito ao outro.

A não violência leva à verdade.

O estudo e o canto védico tornam a mente mais atenta e sensível, e levará a pessoa a defender a verdade e ser disciplinado.

Yoga é uma vida de dharma, de valores, de disciplina e estudos porque o que faz o alicerce do Yoga é a sinceridade e o compromisso para com o dharma. Somente asana, pranayama, dharana, dhyana e samadhi (a prática das posturas, dos exercícios respiratórios, da concentração, da meditação e da absorção) não fazem Yoga! É o compromisso com o dharma, a constância do compromisso e o vínculo com a tradição de estudo e os mestres e também o próprio estudo que fazem com que a vida comum seja uma vida de Yoga.

O estudante identifica-se com a tradição, vincula-se a ela, sente-se fazendo parte de uma família – a família de dharma, de Yoga, é sua família. O estudante não está mais sozinho, faz parte da família do autoconhecimento e a expressão deste pertencer, dessa valorização, é a vida de Yoga. Onde quer que vá, a identificação com outras pessoas será pelos valores, pois dividem os mesmos valores. Os amigos e a família do yogi, ou da yogini, são aqueles que também respeitam o dharma. O que pode caracterizar a vida de Yoga é a reflexão sobre si mesmo e sua conduta a cada dia – o compromisso com os valores universais.

Texto para o Yoga Journal em Novembro de 2014

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