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Narasimha, metade leão, metade humano


Narasimha é divino, é uma forma de Vishnu que vem à Terra, é um avatara.

A palavra avatara quer dizer exatamente isso – aquele que desce; é divino, mas toma

a forma humana. Rama também é um avatara, assim como Krshna. Esses dois são

nossos conhecidos, Narasimha, nem tanto. É dito que, quando as coisas aqui na Terra

ficam muito difíceis de serem resolvidas, mas muito mesmo, a oração das pessoas que

querem uma solução para aquilo que parece impossível de ser resolvido produz uma

solução. Afinal, oração é ação, e para toda ação, diz a lei, há um resultado

correspondente. Então, uma oração, principalmente aquela bem feita, com sinceridade,

tem que ter um resultado; não importa quem seja o autor da oração, seja Rama ou

Ravana! Quando as coisas ficam difíceis significa que a ordem, o dharma, está em

desordem; o adharma fica mais forte e, então, muitas pessoas não sabem mais dizer o que é o certo. E, quando o dharma perde a força, consequentemente o adharma (seu oposto) ganha força. Como o dharma existe somente na pessoa que vive e defende o dharma, o dharma perde a força quando as pessoas que o apoiam estão em minoria. Quando um problema é muito grande, nós, afinal seres humanos, não conseguimos resolvê-lo sozinhos.

Voltando para Narasimha, havia um rei chamado Hiranyakashipu que se tornara poderoso, ambicioso, arrogante e cruel. Seu domínio se estendia para todos os lados. Ele teve um filho, Prahlada, que se negou a toma-lo como deus. Para ele, Vishnu era o supremo. O que muito irritava seu pai. Um dia, não tolerando mais a devoção de seu filho para com Vishnu, o rei agride o filho tentando mata-lo. Mas Prahlada se mantem calmo. O rei diz – se seu Vishnu está em todo lugar, ele está também nesta pilastra e deveria aparecer para protegê-lo. De repente, quando o rei bate na pilastra, de dentro dela aparece Narasimha – metade homem, nara, metade leão, simha. Ferroz, ele agarra o rei.

Este rei havia adquirido muitas bênçãos devido a sua imensa ascese por longo tempo. Primeiro, como fruto de sua ascese, ele pediu ao criador que fosse imortal, ao que o criador disse que nenhum ser pode ser imortal na Terra. Então, o rei diz que quer – não ser morto de dia nem de noite; nem dentro nem fora de casa; nem por homem, nem por animal, nem por outros seres; por nenhuma arma; nem no chão nem no ar; que possa governar sem rivais e com muitos poderes. Pensando que, com sua esperteza, tinha conseguido a imortalidade, pois como e quando alguém poderia mata-lo?!

Mas da pilastra aparece Narasimha – não era exatamente dia nem noite, sentado debaixo da soleira de uma porta (nem dentro nem fora do palácio), Narasimha coloca o rei em seu colo (nem no chão nem no ar), e com suas garras, Narasimha, que não era homem nem animal, abre a barriga do rei e tira suas tripas, destruindo-o. O rei morre, porém Narasimha ainda está em sua forma feroz, nada nem ninguém consegue acalmá-lo. Somente quando seu devoto Prahlada aparece em sua frente com amor e sinceridade, Narasimha consegue se acalmar e mostra sua forma amorosa e benigna.

Esta estória tem o poder de nos acalmar, nos aceitar como somos. Pois, se até o divino na forma humana tem seus aspectos feroz e benigno, é natural que os seres humanos também tenham essa dualidade. O que pode nos fazer especiais é conhecer nosso Prahlada, saber o que podemos fazer para nos acalmar, para aquietar nosso coração.

Ter momentos de agitação e raiva, e outros de quietude e tolerância, faz parte da estrutura humana; o que nos faz divinos não é eliminar essa dualidade inevitável, mas ter a capacidade de agir sob elas nas devidas proporções (respeitando o dharma), sabendo dominar os extremos e trazer rapidamente nosso samatvam, nosso equilíbrio.

Ambas as formas de Narasimha podem ser encontradas em seus templos na Índia. Para seus devotos, ele é protetor nos momentos de perigo, e afasta o medo.

Om narasimhaya namah!

Gloria Arieira

Texto para o Yoga Journal em Setembro de 2014

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