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A importância dos vários nomes de Ishvara


O Mahabharata é uma história completa e complexa da vida humana. É dito que o que não aparece no Mahabharata não existe. A ideia é que tudo que se pode imaginar, fabricado pela mente humana, pode ser encontrado ali.







No Mahabharata, são descritos vários personagens e suas escolhas – boas ou ruins – que nos servem como instrumento de reflexão e aprendizado. Encontramos detalhes significativos de suas escolhas e as consequências dessas.


No meio desse épico, que contém 18 capítulos e 100.000 versos, há uma grande guerra e, após essa, uma reorganização na ordem da sociedade. Sabemos que o Mahabharata foi escrito por Shri Veda Vyasa, sendo contado por este para Vaishampayana; este último conta para Janamejaya, filho de Parikshit que era o neto de Arjuna. Ugrashravas escutou o diálogo entre Vaishampayana e Janamejaya e contou para um grupo de rishis que estava fazendo um grande ritual com duração de alguns anos.


É dito que Ugrashravas foi visitar os rishis durante os anos de execução do ritual, e o líder dos rishis, Shaunaka, pediu a ele que lhes contasse algo interessante e útil visto ou ouvido por ele em suas viagens. Ugrashravas lhes conta sobre um maravilhoso diálogo que houve entre o rei Yudhishthira e seu avô Bhishma, que estava no leito de morte, depois da guerra em Kurukshetra. Yudhishthira pergunta sobre o dharma, que é belamente explicado por Bhishma, incluindo o dharma de um rei. Como parte desse discurso, o avô Bhishma ensina o Vishnu-sahasra-nama-stotram, versos que contém os 1.000 nomes de Vishnu. Bhishma esperava, no campo de batalha, a hora auspiciosa para deixar seu corpo. Parecia esperar pelo fim da guerra, que durou 18 dias, quando teria a oportunidade de dar seu último ensinamento para o rei Yudhishthira.


Bhishma ensina a Yudhishthira que os mil nomes de Vishnu devem ser cantados para a libertação do sofrimento da vida diária e para a liberação final, caracterizada por completa ananda, plenitude, livre do medo, devido ao entendimento da realidade única, Brahman.


Ishvara é nimitta-karana – a causa inteligente e upadana-karana – a causa material da criação. Ele tem que ser entendido, pois é tudo que existe, e inclui evidentemente cada indivíduo – como você e eu. Por isso Ishvara é chamado de Vishnu = aquele que tudo permeia, aquele que é tudo o que existe.


Ishvara é o criador, nimitta-karana; mas quando se faz um ritual ou um oferecimento a Ishvara, ele é visto numa forma específica, apesar de todas as formas serem seu corpo, sendo a causa material de todo o universo, upadana-karana. Mas a verdade é que não há nada além de Ishvara, e qualquer forma em que ele é visto é um símbolo do todo que é ele. Todas as formas, sejam de devas ou devis, são formas de Ishvara. Todos os elogios e as grandezas especiais são dele.


Para melhor cantar seus nomes, estes devem ser compreendidos para que sejam mesmo um elogio ou uma verdadeira declaração de amor. Se assim não for, perde a força, pois quem canta não sabe o significado do que está a cantar. Como o elogio que fazemos a alguém sem saber o que estamos a dizer.


Cantar os nomes ou as qualidades de Ishvara exige que entendamos o que está sendo dito, fortalecendo assim o entendimento de nossa relação com ele, nos lembrando sempre que ele é parte intrínseca de nossa vida.


Assim, Bhishma ensina a Yudhishthira os mil nomes de Vishnu para que todos possam cantar – sejam os 1.000 nomes, 108, ou apenas 18, ou mesmo um único nome na forma de japa. Cada um dos nomes conduz a pessoa que canta a meditar em Ishvara e a entendê-lo melhor.


Cito alguns nomes aqui. O primeiro é Vishvam – aquele que pode ser visto na forma de todo o universo. A seguir, Vishnuh – aquele que tudo permeia, aquele que é a verdade de tudo. Mais adiante encontramos: Darpaha – Ishvara é aquele que destrói o orgulho e a vaidade, ao destruir o que leva a pessoa a ser orgulhosa ou vaidosa. E, a seguir, Darpadah – é aquele que dá o orgulho apropriado, pois as qualidades das quais alguém se orgulha foram adquiridas com seu próprio esforço e o resultado correspondente. Pois a autoconfiança é importante e produz a força para ultrapassar obstáculos. Por fim, encontramos o nome Anantarupah – aquele de formas incontáveis pois todo o universo é sua forma. E Amurtiman – aquele que não possui forma alguma, sendo essa sua verdadeira natureza, nirguna-brahman.


Em qualquer namavali (naama aavalii – sequência de nomes) para Ishvara, encontramos nomes que são aparentemente contraditórios e ajudam a entender a natureza de Ishvara que é causa inteligente e material ao mesmo tempo, que é sem forma mas de quem todas as formas dependem, que é imanente a tudo e livre de tudo. Um desses nomes, que aparece na lista dos 108 nomes de Sri Krshna, é um reconhecimento, um elogio e ao mesmo tempo uma declaração de entendimento dele: sat-cit-ananda-vigrahah – aquele cuja forma é uma decoração de sat, cit, ananda.


O Vishnu-sahasra-nama-stotram, que declara os mil nomes de Vishnu, é ensinado por Bhishma Pitamaha, em forma de versos contendo os nomes seguidos um do outro, somando mil nomes. Desses versos, cada nome é separado e colocado no 4º caso, significando “para”, e seguido da palavra “namah”, que significa saudações. Nesse outro formato é chamado de Vishnu-sahasra-nama-avalih – A sequência dos 1.000 nomes de Vishnu. Como, por exemplo, acontece com o nome Vishnuh que se torna vishnave namah = Saudações para Brahman..


Todos os nomes referenciam as várias formas dos devas e devis, que são Ishvara, que é a verdade imutável e essencial de tudo o que existe, Brahman. Sempre, em qualquer canto ou mantra repetido, qualquer que seja a forma pensada ou invocada, a oração vai para Ishvara, Parameshvara. Ao cantar os vários nomes, ele é lembrado e a mente de quem canta com reverência vai para Ishvara e, nesse momento, os dois são reconhecidos como um somente – um momento de samadhi, jnana-samadhi, um momento em que a dualidade desaparece ao dar lugar à apreciação do um, um samadhi de conhecimento.


Om tat sat


Gloria Arieira










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