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Yoga Sutras de Patañjali | Gloria Arieira

por Ricky Toledano


Sentando-se em seu tablado, nossa amada professora declarou com uma secura incomum: “Yoga Sutras. Certo. Bem, vamos lá." Sem as preliminares cerimoniosas, o canto das invocações tradicionais, a aula já havia começado de forma bastante surpreendente, antes mesmo de Gloria Arieira abrir abruptamente seu livro e acrescentar: “Mas vocês têm que saber que isso não é Vedanta”. Sua irritação ficava clara pela maneira como virava a página impacientemente com o dedo indicador.


Disfarcei um risinho com muito mais eficiência no meio da sala lotada, cheia como nunca tinha visto antes no Vidya Mandir, o instituto que Gloria Arieira criou em 1984 após retornar de seus estudos na Índia com Swami Dayananda Saraswati entre 1974 e 1978. O chão da sala de aula naquela manhã de sábado de 2005 estava completamente ocupado. Os que chegaram mais tarde não tiveram escolha a não ser sentar-se nas poucas cadeiras ou ficar de pé durante o curso que durava a manhã inteira sobre os Yoga Sutras de Patañjali.


Ela deve ter ficado furiosa, já que, ainda que suas turmas tivessem crescido em tamanho com o passar dos anos, eu havia concluído o curso do Bhagavadgita e assistido a aulas sobre determinadas Upanishads onde havia apenas cerca de dez pessoas sentadas espaçadamente, de pernas cruzadas, ao redor dela. Porém, sucumbindo à pressão da florescente moda global do yoga, a pedido de alguns de seus alunos mais próximos - professores de yoga que se juntaram ao coro crescente dos muitos aspirantes a yogis para entender o manual hermético do obscuro "pai" do yoga - Gloria decidiu dar uma aula sobre o texto antigo, relegado para fora do cânone do Vedanta. Então, de repente, a sala foi magicamente ocupada além da capacidade. Por onde haviam andado todos aqueles alunos para ouvir as verdadeiras explicações? O diálogo entre Kṛṣṇa e Arjuna? Entre Nachiketas e a Morte? A maior das canções que diz não apenas qual é o sentido da vida, mas como viver uma vida significativa? Não! Eles queriam os Yoga Sutras.


Confesso que eu era um deles, mas já havia estudado o suficiente com Gloria-ji para saber que Patañjali dificilmente teria sido o criador do yoga. Mesmo há 2.000 anos ele havia sido o produto de uma grande e antiga tradição, que Patañjali também deve ter estudado porque - como você descobrirá nas páginas do comentário de Gloria que é meticulosamente dedicado à língua original - seu uso de termos em Sânscrito indica exatamente como ele havia chegado a tais conclusões sobre como uma vida de disciplina deveria ser construída para atingir o mais elevado dos esforços humanos, o autoconhecimento, que é a plenitude. Isso significa que Patañjali não só deixou um legado para seus filhos e gerações futuras sobre o segredo da realização humana, mas também um rastro para o passado, como as gotas de ghee no chão deixadas por um travesso bebê Kṛṣṇa, levando diretamente de volta à fonte de onde ele o havia furtado.


Diverti-me com a irritação da minha professora por testemunhar sua emoção autêntica. Eu ri pela solidariedade de saber que todos sofremos decepções quando os resultados de nossas ações, de nosso trabalho, não são necessariamente os desejados, aqueles que tínhamos planejado alcançar. No entanto, como aprendi nas aulas de Gloria, existe a visão por trás de como alguém deve receber os frutos de suas ações. É toda a visão do Yoga que descobri em outro texto, em que o maior dos guerreiros desmorona no campo de batalha na dúvida íntima e na incerteza sobre qual será o resultado de sua ação. Esta história é chamada de Bhagavadgita, a Canção do Senhor, e foi onde desmoronei, rendendo-me para sempre ao conjunto de conhecimentos que vinha aprendendo sob a cuidadosa instrução de Gloria-ji, exatamente ali no Vidya Mandir, onde me encontrei mais uma vez em uma manhã de sábado, mas não inspirado pelos Yoga Sutras: por que alguém estudaria este texto quando existe a Bhagavadgita?


Mas, como também aprendemos na Bhagavadgita, nossas decepções são parte de uma história maior que não podemos ver. Concluí que, embora eu nunca tivesse voltado a assistir nenhuma outra aula sobre Yoga Sutras, outras pessoas não compartilhavam da minha opinião - e que Gloria-ji obviamente havia mudado a sua própria. O que havia sido planejado para ser não mais do que uma aula ocasional intensiva sobre um texto tornou-se um curso regular e um dos mais exitosos em Vidya Mandir. Em nossas conversas durante a edição de meu manuscrito, a tradução de sua Bhagavadgita, Gloria-ji revelou seu prazer em ensinar os Yoga Sutras. Eu estava surpreso e tive que confessar o que nunca havia dito a ela: “Gloria-ji, com todo o respeito, eu estava lá, anos atrás, naquela primeira aula de Yoga Sutra ... você estava tão irritada!” Eu ri novamente, lembrando do rosto dela e daquele dedo indicador apontando com uma raiva incomum. “Os Yoga Sutras?” Continuei, sem graça: “São tão áridos! É como ler um manual de usuário. Você lê e não entende nada! Não faz sentido. Além disso, por que ler os Yoga Sutras quando existe a Gita?”


Gloria riu - tanto da minha franqueza quanto da minha opinião, eu creio. “O texto cresceu em mim”, ela começou, desdobrando suas reflexões sobre os Yoga Sutras. “Ocorreu-me que o que Sri Patañjali queria nos passar era a importância de termos clareza em relação ao nosso objetivo na vida, bem como paciência, firmeza e perseverança - especialmente se, de fato, o objetivo é alcançar a liberação final, moksha. A vida diária requer rotina, compreensão das emoções e autocontrole, clareza e perseverança. Patañjali nos oferece o segredo da disciplina, de como levar uma vida de Yoga para a libertação do sofrimento. Ele se concentra em uma vida de Yoga para que o conhecimento que é Vedanta possa ser compreendido. Isso ficou claro para mim”.


Minha curiosidade se acendeu e li sua tradução e comentário, publicados pela Sextante no Brasil. Não precisei ir além do prefácio para ver o quanto a mensagem de Patañjali a havia inspirado a refletir sobre o que uma existência disciplinada significava para sua vida como mãe, avó e professora no contexto da tradição védica. Também me apaixonei pelos Yoga Sutras: onde sempre achei a forma dos sutras simplista identifiquei a simplicidade, uma concisão perfeita que ressoou, dissipando a cacofonia que muitas vezes pode ser encontrada ao lidar com um mar de palavras como a tradição védica. Para mim, os Yoga Sutras são como as anotações de Patañjali, traduzindo o que ele aprendeu durante a vida ao navegar naquele mar em seus termos mais essenciais.


E é nesses termos que a assinatura da dedicação de Gloria-ji ao Sânscrito fez algo sem precedentes. Descompactando as observações pessoais de Patañjali, preenche o contexto védico de onde elas vieram. O leitor pode ver de onde o grande mestre de yoga as tirou e o que ele quis dizer com termos como Ishwara, abhyasa e moksha - bem como o que eles significam para o yogi.



Quando sua irritação inicial de repente diminuiu, por ocasião da primeira aula de Yoga Sutras anos atrás, Gloria-ji explicou que - a despeito do texto - ela repassaria os versos exatamente como sempre havia feito, segundo ela um compromisso inabalável com a Tradição. Aquilo significava que os Yoga Sutras seriam explicados “à luz do Vedanta”. Com sua permissão, optei por excluir esta parte do título em inglês, considerando a afirmação um pouco longa e mais perturbadora do que útil para o título do livro em Inglês. No entanto, seu Yoga Sutra se revela exatamente como suas aulas: cada verso é apresentado em sua forma original em Sânscrito, seguido por sua transliteração, depois por sua tradução e finalmente por seu comentário, de modo que a linha - o sutra - do conhecimento que foi transmitido de mestre para discípulo desde tempos imemoriais permanece intacta.


Nunca imaginei que aproveitaria a oportunidade para traduzir os Yoga Sutras exatamente da mesma maneira que havia feito com o Bhagavadgita, publicado pela Motilal Banarsidas (MLBD). Foi uma grande honra para mim, assim como foi uma honra ter o Prefácio escrito pelo Sr. Arvind Pare, um professor que, assim como Gloria, tem um compromisso inabalável com o ensino da Tradição, bem como uma compreensão profunda da íntima conexão entre Yoga e Vedanta - as disciplinas de ação e conhecimento - para a realização humana.


Portanto, fico muito feliz em apresentar minhas duas traduções da autora e professora vencedora do prêmio Padma Shri, Gloria Arieira.


Abaixo estão todos os links para adquirir nossas publicações. Fique à vontade para visitar o website em Inglês do Instituto Vidya Mandir, de Gloria Arieira.





YOGA SUTRAS:


· EUA (envio de brochura para todo o mundo e Kindle): https://www.amazon.com/dp/B08PJJLSHT




BHAGAVADGITA:




. India (envio de capa dura e brochura para todo o mundo):



YOGA SUTRAS e BHAGAVADGITA


. Vidya Mandir (Livro em meio físico da Bhagavadgita e Yoga Sutras na língua portuguesa):




 
 



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