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  • O Sadhu pode entender Vedanta

    Práticas como asana e pranayama, ser vegetariano, meditar diariamente não libertam ninguém da ilusão e do sofrimento que constituem o samsara. Tampouco ser devoto ou estudar Vedanta libertam a pessoa. Ilusões e confusões sentadas em nossa mente causam sofrimento diário. Imaginamos um mundo ideal para sermos felizes, mas o mundo, que inclui os outros, não são exatamente como imaginamos ou gostaríamos que fossem. Porém não podemos fugir de nos relacionarmos com eles. Aqui não há escolha, o ser humano tem que se relacionar. Mas podemos sofrer ou reagir quando não gostamos das situações ao redor, ou aprender a lidar com as situações, percebendo e lidando melhor com nossa própria mente e seus conteúdos. Podemos escolher uma dessas duas maneiras de ação, mas não se vamos ou não nos relacionar com o outro. A primeira opção mantém a pessoa no samsara; a segunda pode conduzir a pessoa à busca do autoconhecimento e à liberação do sofrimento. A vida pode ser de bhoga, onde o objetivo é somente a satisfação dos desejos e prazeres, ou de yoga, a vida comprometida com o dharma e com o gerenciar da própria mente para as melhores escolhas das ações e para o entendimento e transformação das reações mecânicas. A vida de yoga é a vida comprometida com o autoconhecimento. O compromisso se estabelece quando o conhecimento do Eu básico, e não somente o conhecimento do ego ou da personalidade, se torna muito importante na vida da pessoa. Pode acontecer, porém, que a aquisição do autoconhecimento seja para tornar-se um reconhecido sábio, ou ser um famoso professor, o que então continuaria a ter o ego como foco principal de atenção, e não o Eu imutável básico. Para a aquisição deste conhecimento, a pessoa deve descobrir em si mesmo a característica de ser um sadhu. É o sadhu que consegue assimilar o conhecimento do Eu absoluto que é já sua natureza. Ser sadhu é descobrir em si mesmo duas atitudes naturais para com os outros: ahimsa (a não violência) e kshanti (a capacidade de acomodar todas as pessoas como elas são, acomodar em seu próprio coração e mente todo o universo como ele é). Não é conhecimento que faz o sadhu, mas sabedoria para viver. O sadhu percebeu que o universo é dual e que obedece a uma ordem cósmica. O sadhu respeita as pessoas como elas são, com suas culturas e histórias diversas de vida, e percebe que é essa variedade que faz a beleza do mundo. Tem kshanti como consequência desse entendimento e torna-se incapaz de ferir alguém propositadamente. Ser sadhu é ter uma atitude especial na vida, que nasce de entendimento e não por um esforço. Então, pela exposição ao ensinamento dos Vedas, a pessoa entende que viver a vida de yoga é seguir o dharma, que inclui dois aspectos, como explicado na Taittiriya Upanishad: rtam e satyam. Rtam é o entendimento correto do shastram, os Vedas; entender o que é relevante de ser feito em cada idade e estágio da vida. O entendimento exige uma ação correspondente, e satyam, aqui, é fazer adequadamente o que foi entendido. Kshanti nasce da percepção de que jamais haverá alguém cujas qualidades o outro apreciará ou não completamente. Todas as pessoas serão uma mistura de coisas que eu gosto e coisas que não gosto. E eu também serei uma combinação de coisas apreciadas e outras não apreciadas, jamais totalmente amada ou odiada. Ao entender isso, a pessoa percebe que todo relacionamento exigirá uma capacidade de acomodação. Para um bom relacionamento, saberei o que gosto no outro, mas também terei que perceber o que não gosto e tentar acomodar essa determinada característica. Pois ninguém está preparado para fazer uma mudança para satisfazer o outro, mas gostaria que o outro mudasse para satisfazê-lo. Assim, todo relacionamento exige acomodação, kshanti. Alguns atos são difíceis de acomodar, mas se focarmos na pessoa, mais do que no ato, poderemos acolher a pessoa, apesar de não aceitar o ato. Entender o que levou a pessoa a agir daquela maneira pode evitar a reação mecânica e possibilitar uma ação mais deliberada. A ação mecânica é aquela que não é escolhida, mas que acontece sem prévia aprovação da própria pessoa. E muitas vezes nega o que já foi entendido, mas não ainda assimilado. Nesse exercício, a ação mecânica torna-se deliberada. Sem ferir o outro – seja em ação, palavra ou pensamento – o sadhu acomoda a pessoa e seu modo de ser, possui ahimsa e kshanti. Entende que a ação errada do outro nasce de um conflito interno (entre um valor e um impulso mecânico) e uma confusão criada em sua mente. Para não ferir o outro, é necessário sensibilidade, empatia e atenção ao outro e seus sentimentos e um desejo de não causar sofrimento, assim como a própria pessoa não deseja ser ferida. Ainda que um ato errado seja sempre errado, a pessoa pode ser acomodada. Um sadhu, se encontrar o conhecimento de Vedanta e um professor que tenha conhecimento e esteja capacitado a ensinar, consegue facilmente mudar sua visão da realidade, permanecendo em paz com o mundo e no relacionamento com ele, entendendo sua natureza plena e livre de limitação. Om tat sat Gloria Arieira #sadhu #asana #pranayama #samsara #bhoga #dharma #kshanti #restam #satyam #shastram #ahimsa #vedanta #liberação #sofrimento #yoga #autoconhecimento

  • Pontes a serem atravessadas

    Ao longo de nossa vida temos pontes a atravessar, mudanças a fazer, aprendizados a concluir. Brahman é um e imutável. Nada faz. Mas através de Maya Shakti manifesta o universo em toda a sua beleza e ordem lógica, inteligente, em pequenos detalhes e mantendo tudo coeso, em funcionamento. Uma ordem, um padrão através do qual podemos analisar o universo é a dos gunas. Os três gunas – sattva, rajas e tamas – compõem: conhecimento, movimento e estática (ausência de conhecimento e movimento). Os três são importantes e sempre presentes no universo. Outra estrutura constante é a forma física do corpo e do universo, a forma sutil, que é o mental-intelectual, e a forma do não manifesto, que se manifesta em físico e sutil constantemente. Quantas coisas são ocultas e se manifestam; outras tantas que estão manifestas desaparecem. Como o dia que desaparece, dando lugar à noite. Como o desejo que se aquieta. No corpo falamos em vata, pitta e kapha. Na mente são muitas as expressões: a clareza, o desejo, a alegria, a raiva, o cansaço, o sono. E tudo isso em constante movimento! E, na vida de cada um de nós, existem pontes a serem atravessadas, aprendizados que devem ser feitos nas várias fases da vida. Que é outra ordem que estrutura o universo, a vida humana. As fases são mencionadas nos Vedas como: de estudante, casado, aposentado e renunciante. Em cada fase existe um propósito específico, mas em todas permeia o propósito de alcançar a maturidade para o autoconhecimento e a entrega a este – o propósito mais significativo de toda a vida. O Sama Veda possui um lindo e significativo texto. Setun tara. Dustaran. Akrodhena krodham tara. Shraddhaya ashraddham tara. Danena adanam tara. Satyena anrtam tara. Esha gatih. Etad amrtam. Iti Sama-vedah. Atravesse as pontes. São difíceis de serem atravessadas. Atravesse a raiva com a ausência da raiva, sem ter raiva porque teve raiva. Atravesse a ausência de confiança com a tentativa de confiar, dando uma chance. Atravesse a incapacidade de dar, de oferecer, doar, através da tentativa de dar, do exercício de doar. Atravesse o falso trazendo a verdade, a transparência, a clareza. Esse é o caminho. Isso é a imortalidade (o caminho para descobrir a imortalidade). Sama Veda. Nossas pontes são sempre difíceis de serem atravessadas. As pontes dos outros parecem fáceis para nós! Para atravessar nossas pontes temos que descobrir quais são elas. Nossas pontes são difíceis de serem atravessadas e, também, de serem reconhecidas. Elas estão escondidas para nós, fazem parte de nossa personalidade e as identificamos como parte de nós; por isso não conseguimos ver como objeto, como não-eu, para ser possível atravessá-las. Fazem parte de um lado oculto, escuro, não visível para nós. Esse oculto pode ser comparado ao mundo oculto das cobras, debaixo da terra, onde estão invisíveis, mas de onde saem, vêm à tona. E a cobra é comparada, na tradição védica, ao ahamkara, o ego, com suas ilusões. A águia dourada, Garuda, comparada ao conhecimento, à clareza, ataca a cobra, mas depois a solta, deixa livre. Na história de nagas e Garuda, temos o sábio Kashyapa casado com duas esposas: Kadru, mãe de 1.000 cobras, e Vinita, mãe somente de Garuda. As cobras e sua mãe enganam a mãe de Garuda para servi-los. Mas Garuda, depois de uma longa história, liberta sua mãe da maldição das cobras, naga-dosha, conseguindo o néctar da imortalidade, amrtam, de Vishnu. Garuda por fim perdoa as cobras, pois são seus irmãos. Cobras vivem embaixo da terra, em buracos, e cuidam, com apego, da área onde habitam. Elas aparecem enroladas no pescoço e no corpo de Shiva, simbolizando o ego, a personalidade, que para Shiva é somente uma decoração, um ornamento. Elas também representam o samsara, os ciclos sem fim de nascimentos e mortes dos seres vivos, pois as cobras trocam de pele e continuam sua vida. A clareza de conhecimento pode destruir o ego, que é o eu ilusório, mas trazê-lo depois à vida de forma livre, livre de ilusão. O ego retorna em sua beleza, por ser único e original, porém agora sem a ilusão de considerar-se perfeito. Assume sua forma, sem a ilusão de ser ela a realidade do Eu. Com o conhecimento de Brahman, entendemos a forma do ego – com gunas, belezas e feiuras, dinâmico, em transformação, com todos os doshas, os defeitos de limitação – e podemos então acolhê-lo como é, com suas imperfeições. As pontes a serem atravessadas são aquelas que nos cegam e aprisionam à personalidade, ao ego. Ao atravessá-las, podemos ser como somos, com expressões diferentes, mas sempre plenos, satisfeitos pelo completo e eterno que somos. Om tat sat Gloria Arieira #Gunas #TradiçãoVédica #Garuda #Doshas #Shiva #Ego #SamaVeda #Brahman #Autoconhecimento #Ahamkara #Conhecimento #Clarezadeconhecimento

  • O conhecimento de Brahman que é Ishvara

    O conhecimento de Brahman é o tema principal do conhecimento chamado de Vedanta. Mas conhecer Brahman inclui conhecer Íshvara, Brahman com Maya, o poder de tudo fazer acontecer. Esse poder é dito como “na satyam, mithyá iti”, “não é real, é aparente, ou aparentemente real”, mas tem uma realidade que não pode ser negada. Esse poder, chamado Maya, não poder ser afirmado como asat, não existente. Entendê-lo é entender todo o universo, é entender jíva, o indivíduo. Íshvara é jagat-karanam, a causa do universo, mas, ao mesmo tempo, é seu corpo e sua expressão que é cósmica. Seu corpo é do tamanho de todo o universo – todo o vasto espaço, o ar, o fogo, a água e a terra, inclui o sol e a lua, todas as estrelas e planetas, e todos os vários tipos de seres vivos. E ainda inclui as leis que governam as expressões e os movimentos intrínsecos ao universo, e a lei que governa o funcionamento de todas as leis: leis sobre o fogo, a água, os corpos celestes, os ventos, as estações, os dias, a mente, a aquisição de conhecimento, as emoções, as atrações e repulsões nos diferentes níveis. Essas leis não mudam, são as mesmas desde que o universo existe, são constantes e por isso podem ser estudadas e conhecidas. O conhecimento delas é o que chamamos de ciência. E para que qualquer criação possa acontecer, mesmo a criação de um simples pote de barro, pressupõe-se inteligência, e esta existe em um ser inteligente. Jíva, o indivíduo, é um ser inteligente, mas com poder limitado. O ser responsável pela criação de todo o universo tem que ser inteligente, pois toda sua criação é relevante, e ter um poder ilimitado, diferente de jíva. Este ser inteligente é chamado em Vedanta de Ishvara. Ele não é uma pessoa, como o jíva é. Ele é um todo cósmico, cuja forma é a totalidade do universo. É por isso que ele não pode ser visto, tampouco imaginado por uma mente humana. A mente humana é incapaz de conceber a totalidade cósmica que é Ishvara. Assim, tudo o que existe e as leis que mantém este todo funcionando em cumprimento às suas próprias leis é Ishvara, o que evidentemente inclui jíva. Entender isso é importante. A consequência desse entendimento é perceber a totalidade coerente, que é impessoal e incorruptível, que funciona sempre dentro de seu padrão (com regras e suas possíveis exceções) de funcionamento. E, assim sendo, pode-se confiar que funciona com justiça. Sempre. Se o indivíduo percebe essa ordem maior que mantém várias outras ordens em perfeito funcionamento, em ordem, de forma impessoal, ele descobre que pode confiar. Isso porque são leis que não falham. Como dizia Sri Swami Dayananda: “Deus não é infalível. O infalível é Deus.” Temos que entender a diferença entre as duas afirmações. Não se pode eleger um Deus e dizer que ele é infalível. Mas quando apreciamos o que não falha, a ordem que mantem as várias leis em funcionamento, sem possível falha, podemos nomear essa ordem cósmica inteligente de Deus. É nesse entendimento que nasce, no indivíduo, a confiança, o relaxamento. É só dessa maneira, com esse entendimento, que a vida – física, emocional e intelectual – poderá ser vivida com equilíbrio e paz. A sabedoria do agir no mundo está na constante capacidade de re-equilíbrio e não no rigor do apego a determinada ação. É como aquele boneco infantil, o João Bobo, que jogado de um lado para outro, retorna sempre a seu prumo. A dualidade da vida e as constantes situações inesperadas e não-desejadas jogam a pessoa de um lado para outro, mas ela pode se re-equilibrar com a apreciação da Ordem que é Íshvara. Em sânscrito temos duas palavras que significam lei, ordem. As leis dos homens, que estão sujeitas às mudanças de tempo, lugar e particularidades, é niyama. E as leis do universo, que são as mesmas e mantidas por uma grande lei que mantém todo o universo coeso, em ordem, que é níti, a ordem imutável que é Íshvara. Para nos relacionarmos melhor, ou mais facilmente, com Íshvara, cuja forma não conseguimos conceber, os Vedas nos levam a vê-lo de diferentes maneiras, através dos vários aspectos que o compõem. Esses aspectos, expressões do todo que é Íshvara, são chamados de devas e devís. Através de formas específicas nossa mente consegue visualizar Íshvara. Mas se acharmos que cada um deva ou deví é separado ou diferente de Íshvara, nossa visão será falha, parcial. Se conseguirmos apreciar que todas as formas estão incluídas no todo que é Íshvara, a visão de devas e devís nos ajudarão. Na primeira haverá uma religião, com um conceito específico de deus; na segunda, um entendimento mais completo e profundo de deus. E esse, por fim, poderá conduzir à compreensão da realidade imutável Brahman e, consequentemente, ao entendimento da realidade perecível e mutável que é Íshvara, através do poder de criar, manter e transformar que é Maya. Maya com sua expressão tem beleza e encantamento. O que é imutável, mas ao mesmo tempo a verdade básica de tudo o que existe, é Brahman – aquele que não possui forma nem qualidades, é nirguna e arúpa, e ao mesmo tempo é inerente a tudo que existe. Om tat sat Gloria Arieira #BrahmanÍshvara #Maya #Jíva #Satyam #Mithyá #Asat #Dayananda #Íshvara

  • A pessoa básica

    Na Katha-upanishad 1.2.2, encontramos duas palavras para descrever dois caminhos de vida. São elas: shreyas e preyas, que significam o bem-maior e o agradável. Apesar de serem apresentados como shreyas e preyas, sendo shreyas o primeiro, este não é a escolha mais comum, a maior parte das pessoas escolhe preyas. Preyas é o caminho do agradável, de escolher o que mais nos agrada e dá satisfação imediata. É a escolha por aquilo que traz à pessoa o prazer imediato. Com o olhar somente para o prazer, e não para um bem-estar maior, mais duradouro, que não seja somente produzido pela satisfação dos sentidos. Preyas é a escolha que é feita com base nos gostos e aversões, raaga e dvesha, para satisfazer ou acalmar a pressão que eles exercem sobre a pessoa. Na escolha de preyas, o caminho é de ação para alcançar a satisfação imediata desejada. É o caminho da vida em direção à satisfação dos desejos – sejam conquistas de riqueza, fama, poder e prazeres vários, inclusive o céu, após a morte, mas isto sem considerar o dharma. O caminho de shreyas é aquele em que o dharma, o agir corretamente, é considerado, respeitado. Dharma inclui os valores universais de verdade, sinceridade, não-violência e tantos outros, e o cumprimento do respectivo papel nos relacionamentos humanos. Está incluído em shreyas a busca pelo conhecimento da verdade maior que tudo permeia e o libertar-se da visão única de si mesmo como limitado e carente, chamado de moksha. É o ver-se limitado e carente que pressiona a pessoa a agir para sua satisfação pessoal somente, sem importar como, ignorando os valores universais. O caminho para o bem-maior, shreyas, é a busca pela maturidade emocional e pelo autoconhecimento. Apesar de ações várias – física, oral e mental – fazerem parte de qualquer caminho de vida, aqui o objetivo não é somente a aquisição de prazeres, a satisfação dos desejos. Sim, haverá desejo, gostos e aversões também, satisfação e prazer, pois tudo isso inevitavelmente constitui a vida humana, mas esses serão governados pelo dharma, pela tentativa de fazer a ação de forma apropriada. É no foco por detrás das ações que vemos a diferença entre os dois caminhos, o foco do objetivo maior da vida. Esse foco ou objetivo muda o colorido do caminho de vida; faz com que uma vida de ação possa tornar-se uma vida de Yoga. Ao viver cada momento de nossa vida, fazemos papéis, não podemos fugir de fazermos papéis. Cada um de nós é uma pessoa com papéis que possuem scripts. Um papel de amigo, por exemplo, que construímos a partir do valor de “como ser um amigo” e nossas ações específicas de amizade a cada momento, em cada situação. Se tivéssemos um papel único na vida, fazê-lo seria muito fácil, porém temos muitos papéis a cumprir ao mesmo tempo. Quando um ocidental vai à casa de um indiano, não consegue entender como ele tem tantos nomes, cada membro da família o chama de forma diferente. O nome que o amigo ocidental conhece nem é pronunciado na casa. Isso é porque os nomes dados significam o relacionamento com aquelas pessoas. Por exemplo, ele será chamado de filho, irmão, cunhado, neto, tio materno, tio paterno, marido, pai etc. Ao saber e mencionar o tipo de relacionamento, temos uma dica do tipo de atitude, linguagem e ações que devemos usar. Isso torna as relações mais fáceis. Uma relação em que não sabemos o que exatamente somos da outra pessoa, nos dá insegurança e confusão na hora de agir com a pessoa e de nos referir a ela para com os outros. A sociedade indiana ajuda seus membros ao denominar as relações interpessoais. Fazemos sempre muitos papéis, o que torna a vida complexa. E fazer cada papel adequadamente é o dharma numa sociedade. Mas temos também o dharma para conosco, um respeito para com a pessoa que somos. Para proteger esse dharma, temos que apreciar não só cada papel, mas a pessoa básica que cada um é. A pessoa básica faz papéis, mas é livre de papéis. Essa pessoa tem que ser reconhecida. Os papéis são comuns e mudam constantemente. Mas nenhum papel é absoluto, todos os papéis são relativos, mutáveis e perecíveis. A pessoa básica é aquela que você é quando está consigo mesmo, num momento de paz, na meditação, na apreciação de algo belo. A pessoa básica faz sempre o melhor que pode em cada papel, mas pode falhar, errar. Mas sempre o melhor possível é feito. Por mais incrível que possa parecer, não é feito ainda melhor porque não é possível por várias razões, naquele momento. E é isso que se faz necessário reconhecer – cada papel é feito no seu melhor. Se a pessoa falha de qualquer maneira que seja, eis aí uma constante possibilidade. O erro, a falha, a limitação são possibilidades dentro da execução de qualquer ação. E a ação feita continua sendo sempre a melhor possível naquele momento que é feito pela pessoa. Com isso, não se quer dizer que todas as ações são corretas ou aceitáveis. Evidentemente existe o que é correto, ou adequado, e o não-correto ou não-adequado. Ainda que a ação tenha sido a melhor possível, ela pode ser inadequada por ser algo que não deveria ser feito daquela forma ou por causar sofrimento ao outro. Porém, quando quem faz a ação entende que faz o melhor que pode, ela não olha mais para trás com culpa e arrependimento, e sim, para frente – para aprender a fazer melhor ainda. A pessoa básica faz seu melhor em cada papel. Se o foco estiver nos papéis que faz, haverá insegurança e julgamento, insatisfação e medo de errar. Mas se o olhar estiver para a pessoa básica que é livre de papéis, mas que pode e faz papéis, há o entendimento da totalidade de si, o ser básico. Na independência dos papéis, esses podem ser realizados sem que adjetivem a pessoa. A descoberta da pessoa básica traz acomodação da limitação dos papéis, na acomodação há acolhimento, no acolhimento há paz. A paz que sou eu – a pessoa básica. Gloria Arieira #shreyas #preyas #moksha #dharma #sociedade #limitação #kathaupanishad #dvesha

  • 40 anos de Vedanta no Brasil

    40 anos de Vedanta no Brasil Gloria Arieira Abril 2019 Vedanta é um conhecimento muito antigo, para toda a humanidade, preservado na Índia desde muito tempo. Mais do que o conhecimento encontrado no final dos Vedas, em sânscrito, Vedanta é uma tradição de ensinamento. Então, apesar de estar disponível na forma de livros em diversas línguas, a tradição de conhecimento, com seu método específico, não é bem conhecida. Vedanta não é uma proposta filosófica, nem psicológica, nem é uma religião, é um meio de conhecimento que tem como tema o Eu eterno livre de limitação. Para entender a visão de Vedanta é preciso querer muito, requer que a pessoa anseie por entender a realidade. Quando a busca é urgente, a pessoa não encontra sossego enquanto não resolve essa ânsia. A vida é vista como um grande quebra-cabeça a ser resolvido; a peça que falta para que a vida ganhe significado tem que ser encontrada urgentemente. Tudo o mais fica para depois! Foi assim que uma brasileira, recém-casada, de 20 anos, foi do jeito que se fez possível para a India com seu marido. Ambos preparados para qualquer sacrifício para encontrar essa peça que faltava do grande quebra-cabeça da vida. Foram para estudar, entender e poder relaxar para viver a vida que se apresenta para ser vivida a cada instante. Nada mais do que isso. Ensinar não estava no plano inicial. Entender o mistério, sim! Dois grandes mestres eram os professores – Swami Chinmayananda e Swami Dayananda. O primeiro foi ao Brasil, em 1973, quase por acaso, e deu 2 palestras no Rio de Janeiro, e foi nessas palestras que se tornou claro existir um conhecimento que faz sentido, que possui lógica, sobre a causa única de tudo que existe. O segundo foi conhecido no ashram, na India, pois era quem dava a maioria das aulas. A escola era Sandeepany Sadhanalaya, num subúrbio de Mumbai, o ano era 1974, e os estudos foram até 1978. Swami Chinmayananda teve a importância de ser o primeiro a ensinar Vedanta em inglês, no modelo tradicional, nos anos 1950. Até então só se ensinava em sânscrito e nas línguas indianas locais. A partir de Swami Chinmayananda, uma pessoa que soubesse inglês e estudasse sânscrito, poderia entender com clareza quando ensinada por um bom professor. Ele também transmitiu aos estudantes a importância da dedicação, do compromisso, das disciplinas e da devoção. Swami Dayananda deu a nós, os alunos, a compreensão clara do conhecimento do Ser absoluto; mostrou a diferença entre fé, uma crença para a qual não cabe demonstração, e o conhecimento que necessariamente nasce de um meio válido de conhecimento (como, por exemplo, só os ouvidos são meio válido para o conhecimento de um som) que possui lógica e clara demonstração, produzindo assim um conhecimento livre de dúvidas. Swami Dayananda também nos ensinou a acomodar todo o universo e tudo o que nele ocorre, incluindo nossa pessoa, como relativos, limitados e mutáveis que são. Se for necessário e assim você quiser, depois de acolher e acomodar, faça o que for possível para mudar o que achar que deve, dizia ele. Mas, o mais importante que ele nos ofereceu foi o rigor da lógica e do entendimento da realidade absoluta, imutável, que é a verdade essencial de tudo. Em dezembro de 1978, depois que os estudos se completaram, Swami Dayananda veio ao Brasil e deu aulas no Rio de Janeiro e São Paulo por duas semanas. E foi depois disso, em janeiro de 1979, que comecei a dar aulas de Vedanta. Nós, seus alunos, levamos o conhecimento de Vedanta, que nos foi transmitido e adquirido, para várias partes da India e do mundo. A diferença na forma de Swamiji (Swami Dayananda) ensinar vinha da tradição rigorosa de Vedanta que ele absorveu de seus mestres e os estudos feitos com eles. Rigorosa pois não está aberta a visões e interpretações pessoais. E a maioria de nós segue o mesmo método com rigor e precisão. São 40 anos de ensino de Vedanta no Brasil. Para começar o estudo, o ouvinte tem que descobrir o diferencial que é Vedanta, sua relevância e profundidade. Isto porque o tema é o Eu livre de forma, livre de uma personalidade, de um corpo físico, da energia vital, da mente ou do intelecto, os diferentes componentes que constituem a pessoa. A exposição ao Vedanta começa com o apontar a pessoa carente que o ser humano é, apesar de todas as conquistas ao longo da vida, de segurança social e financeira, de prazeres vários adquiridos, de conquistas invejadas por outros. Apesar de tudo isso, existe uma busca natural humana que não se desfaz, que é a busca de ser completo, de estar confortável consigo mesmo. E a pessoa tem que perceber que nada no mundo consegue aquietar esse sofrimento da pessoa carente. Esse é o problema humano comum e básico: a carência. Depois disso, a pessoa há de ter o entendimento de que qualquer que seja a aquisição no mundo, nada de fato resolve essa carência. E a consequente descoberta de que nossos meios comuns não resolvem e nunca resolveram esse problema. Desejamos uma satisfação completa em nós mesmos, que não acontece e, ao mesmo tempo, esse desejo não consegue ser descartado. Isso porque, apesar da carência, temos experiências de plenitude em nossas vidas. Por ser um desejo natural e comum a todos, como é a fome e a sede, não se pode descarta-lo, e assim tem que haver um meio para satisfazê-lo. Além disso, vemos pessoas satisfeitas consigo mesmas, sem a satisfação de um desejo ou a aquisição de algo especial ou significativo no mundo. Tudo isso é um mistério, um quebra-cabeça a ser resolvido. Há um importante momento em que nos vemos encurralados, há uma carência constante que nada consegue resolver, mas para a qual tem que haver uma solução. É assim que se constitui a busca mais importante da vida – libertar-se da sensação de carência. E essa busca é então priorizada. Vedanta ajuda a pessoa a entender o problema e a resolvê-lo. Mostra o quanto a ação é inútil aqui, pois traz mudanças que não serão definitivas, que manterão a pessoa carente; qualquer mudança está sujeita a nova mudança. Para se constituir uma solução definitiva, o Ser completo, não carente, tem que já ser existente e disponível. A solução se estabelece no conhecimento do Eu completo sempre presente, mas não reconhecido. Quando o problema é entendido, mesmo sem a solução, já se estabelece um relaxamento interno! E Vedanta é o meio de conhecimento para o Eu, que não é o corpo, a mente, conhecimentos, ignorâncias; pois todos esses, apesar de serem tomados como eu, são objetos percebidos pelos sentidos. O Eu aqui mencionado não é objeto dos sentidos. Para ser conhecido exige um meio de conhecimento, que serão palavras ditas por alguém que entendeu o assunto e tem o método tradicional de ensinamento sob seu domínio e uso. E, assim, para falar sobre tudo isso, começaram as aulas de Vedanta no Rio de Janeiro, e aos poucos em outras cidades do Brasil. As comunidades de yogis, que já existiam em 1979, resistiram muito. Os professores de Yoga desaprovaram, afirmaram que Yoga e Vedanta eram diferentes e tentaram afastar os yogis das aulas de Vedanta. Muitas vezes recebi críticas diretas e enfrentamentos ao longo desses 40 anos, em especial nos primeiros 15 anos em que estive a ensinar Vedanta. Mas segui meu caminho ensinando Vedanta dentro da tradição de ensinamento de mestres como o Swamiji e Sri Shankara. Logo no início, tentei mostrar que Vedanta é somente um conhecimento, porém há um estilo de vida muito importante para preparar a mente para o estudo, para o entendimento do livre de limitação que é a verdade do Eu. Então, incluí, como é feito na India, a meditação, a puja, o simbolismo contido nos Vedas, as histórias conectadas à tradição dos Vedas. Contei o Mahabharatam, o Ramayana, Bhagavatam, histórias de Ganesha, de Shiva, Rama, Krshna, as várias devis etc. E sempre convidava o Swamiji a vir ao Brasil e falar para os alunos. As aulas enfatizavam o estilo de vida, que é chamado de Yoga, e o compromisso com a verdade, os valores, o gerenciamento das emoções, a relação do indivíduo com o Todo e suas várias formas simbólicas. Logo em 1982, comecei a organizar fins de semana de aulas e satsangas para o convívio dos que estudavam Vedanta. Isso é importante pois cria um grupo de identidade, de suporte. Questionamento e desapego eram sempre enfatizados, assim como a maturidade emocional, como apoio ao estudo de Vedanta. Nas vindas de Swamiji, que foram muitas, desde dezembro de 1978 até 2004, ele sempre ensinou Vedanta e levantou questionamentos de forma encantadora e profunda. Numa ocasião, ele explicou que Deus não é infalível, mas o infalível é Deus. E mostrou também a diferença. Se a pessoa estabelece que Deus é infalível, ela se sente frustrada e enganada (até mesmo magoada) quando suas orações não são satisfeitas. Mas quando se compreende que há uma Ordem inteligente e impessoal que governa o universo através de leis claras e bem estabelecidas, que podem ser conhecidas pelas várias áreas da ciência, entendemos que essas leis não falham, são infalíveis. E o que é infalível é o que chamamos Deus. Quantas vezes ele disse que a liberação é a natureza do Eu, e que este fato tem que ser entendido, não há nada a ser alcançado. Em tantas outras visitas, evidenciou confusões de entendimento, como “as religiões têm o mesmo objetivo, levam ao mesmo lugar”. Mostrou como em geral o objetivo das religiões é alcançar o céu, depois da morte. Mas os Vedas dizem que o objetivo maior da vida é conhecimento, é entender o Eu que é idêntico a Deus e ao universo, uma única realidade. “Você é o que deseja ser”, disse ele tantas vezes. De fato, conhecimento, clareza, é a maior bênção na vida de uma pessoa, ainda mais quando o conhecimento é de quem sou. O ensinamento de Vedanta na língua portuguesa nesses 40 anos abençoou muita gente. O conhecimento claro da verdade liberta. Ensinei no Rio de Janeiro, depois, quando meus filhos cresceram, comecei a viajar pelo Brasil e depois para Portugal. Traduzi vários textos de Vedanta que se tornaram apostilas e, depois, livros ao longo dos anos. Ofereci em português um livro de orações dos Vedas para quem quisesse fazer uma oração significativa se conectando mais estreitamente com o Todo. Organizei, revisei e traduzi vários livros do Swamiji. Os livros foram publicados com a ajuda de muitas pessoas. Tudo o que foi feito ao longo desses 40 anos devo ao suporte, ao apoio, à ajuda de muitos – do Swamiji, de meus pais, meus filhos, familiares, alunos, alunos que se tornaram amigos. Esse trabalho inspirou muitas pessoas. Algumas pessoas foram também para a India e estudaram com o Swamiji e com outros alunos do Swamiji. E voltaram para ensinar. Foram muitas realizações durante esses 40 anos. Sempre tive suporte e ajuda para realizar tudo que foi realizado nesses anos, inclusive a criação de uma instituição sem fins lucrativos e a manutenção desta para viabilizar o trabalho, no Brasil, de aulas presenciais e agora também on-line, de publicação de livros e outras atividades relevantes. Tem sido um trabalho de ensino e proteção dos Vedas que foi iniciado por meus dois mestres, do qual faço parte e que continuará depois do meu tempo. O mais importante hoje é saber que esse trabalho de ensino tradicional de Vedanta na língua portuguesa continuará, pois muitos alunos meus estão ensinando também, com o mesmo respeito e compromisso com Vedanta, os mestres de nossa tradição e nosso sampradaya – a própria tradição de ensinamento que é passada de professor ao aluno. Om sri gurubhyo namah. Saudações aos mestres Esse artigo foi escrito a pedido de Márcio Assumpção para uma publicação do Instituto de Yoga Terapia de Campinas, SP.

  • O que é o Dharma?

    A palavra dharma é derivada da raiz sânscrita dhr, que tem certo número de significados, sendo os principais "existir, viver, continuar" e "segurar, suportar, sustentar". A própria palavra dharma acabou sendo usada numa larga variedade de sentidos, a maioria relacionados com as traduções mais comuns: retidão, virtude, dever. Num sentido mais amplo, dharma refere-se à natureza ou caráter do que quer que seja. Nessa ordem de idéias, é possível falar do dharma de um objeto inanimado, ou de plantas e animais. O dharma, ou natureza, do fogo é proporcionar calor e luz. O dharma de uma vaca inclui dar leite e pastar. O dharma da vaca não inclui ficar à espreita e matar presas. A natureza do ser humano, como ensina o Vedanta, é a plenitude absoluta. E é em relação ao indivíduo que não reconheceu sua própria plenitude que dharma pode ter diversas mudanças de significado.Todos os objetivos que alguém procura na vida cabem em quatro categorias: segurança, prazer, dharma e liberação. Os desejos de riqueza e segurança e de prazeres sensoriais são compartilhados por todos os seres vivos. Quando se trata de animais, a busca desses bens é governada pelo instinto. A vaca masca a grama por instinto, não por escolha.Toda ação envolve escolha de finalidades e meios para atingir um dado objetivo. Cada um pode agir em harmonia com sua natureza, em contato com outros indivíduos ou dentro da sociedade, ou pode não fazê-lo. Assim, para o ser humano, são valores que governam as ações ou a busca de segurança e prazer. Uma vez que valores são sujeitos a variações e mudanças, cada um deve ter um conjunto de linhas de conduta que governe seus valores. Esse conjunto - ética - é chamado dharma. Dharma inclui tanto uma ética do bom senso, escolher minhas ações de maneira a não agredir os outros, como uma ética religiosa, que diz não me ser possível escapar dos resultados das minhas ações. Ações corretas ou incorretas levam a resultados consequentes, seja nesta vida ou depois dela. O quarto objetivo desejado - o que dá fim a todos os demais desejos e objetivos - é moksha, a liberação. Liberação e reconhecimento da própria natureza como plenitude e totalidade. A pessoa liberada, como um ser pleno, não tem mais desejos e sua vida só pode estar em harmonia com tudo que a cerca. É um exemplo vivo de dharma a ser seguido por todos. Até que se alcance essa plenitude, as leis do dharma se mantêm como linhas de ação que norteiam a vida. Vivendo uma vida reta e virtuosa, a pessoa prepara a mente para receber o ensinamento que lhe trará moksha. Palestra de Swami Dayananda proferida na Califórnia, USA, para a revista Mananam. #Dharma #Vedanta #SwamiDayanandaSaraswati #Veda #Valores #TradiçãoVédica

  • Hari OM

    O texto mais conhecido da Tradição Védica é a Bhagavadgita. A Tradição Védica é assim chamada porque tem suporte nos Vedas, mas também é chamada atualmente de Tradição Hindu e, em Sânscrito, é Sanatana Dharma, o conhecimento que vem junto com a humanidade. Bhagavadgita significa a canção (gita) do Senhor (bhagavad). E a palavra gita é propositadamente colocada no feminino (uma vez que normalmente é uma palavra neutra), pois refere-se à fonte de todo conhecimento, que é Sarasvati. A Bhagavadgita é muito conhecida e apreciada pois nela podemos encontrar a essência dos Vedas numa linguagem mais fácil do que a linguagem dos Vedas. É na Bhagavadgita que encontramos todos os assuntos de Vedanta, o autoconhecimento, e de Yoga, o estilo de vida que privilegia o autoconhecimento. No capítulo 16 da Gita, Sri Krshna nos fala sobre características mentais diferentes, algumas que conduzem à liberação e outras que aprisionam as pessoas ao samsara. O objetivo dessa descrição é levar as pessoas a desenvolver as qualidades que conduzem ao autoconhecimento e evitar as outras. Depois, no capítulo 17, Krshna ensina sobre três tipos de pessoas – as que conduzem sua vida com clareza dentro do que é correto, independente de seus desejos; outras que guiam suas vidas a partir do que gostam e querem; outras, ainda, que governam suas vidas por suas aversões e raivas. Todos nós podemos agir dessas três maneiras, em momentos diferentes, mas devemos tentar focar mais nas ações corretas que devem ser feitas por nós, com discriminação e clareza. Mas, mesmo quando, por força da ilusão, agimos inadequadamente, ao perceber o erro ou deslize, há algo que pode ser feito, nos ensina Sri Krshna – as palavras “OM tat sat”, repetidas com a mente em Ishvara, neutralizam o negativo associado à ação. É dito que Hari OM pode ter essa função também, pois nos remete a Ishvara. Hari vem da raiz verbal hr que quer dizer: carregar, levar embora e é um nome de Ishvara. Podemos traduzir livremente Hari OM como: “Ó Ishvara, através da palavra OM, eu o chamo e, através da palavra Hari, eu lhe peço ajuda para levar embora minha ignorância.” Seja Hara (um nome de Shiva) ou Hari (um nome de Vishnu), as palavras nos remetem a Ishvara, aquele que, através das leis da criação, remove nossos sofrimentos. Harih – yah harati papani duhkhani duhkhahetum ajnanam ca. Hari é aquele que leva embora os sofrimentos e também a causa dos sofrimentos que é a ignorância de si mesmo. E a palavra OM vem da raiz verbal av que quer dizer proteger, abençoar. OM, que é o nome de Ishvara, é uma fonte de bênção, de proteção. OM protege eliminando a causa para o sofrimento, que é a ignorância de quem sou eu. Harih OM é a mesma coisa que Hari OM. Quando iniciamos ou terminamos cantos védicos, dizemos Harih OM, e, às vezes, dizemos Harih OM sri gurubhyo namah Harih OM. (Harih OM saudações aos mestres Harih OM). Mas, coloquialmente, saudando uns aos outros, como os sadhus e renunciantes fazem em Rishikesh, ou num ashram, é dito: Hari OM. Lembramos, com essa saudação, de Ishvara que elimina todo o indesejável e nos abençoa com o bem maior, aquilo que mais desejamos. Reforçamos também o entendimento de que o que real é OM. Ishvara está na forma do universo e das leis que o mantém em funcionamento. Como parte da vida de Yoga, Ishvara é lembrado como a ordem psicológica que governa a mente e o intelecto, as emoções e o raciocínio. Apreciando a existência de Ishvara, ou da ordem psicológica, podemos perceber a coerência em nossas emoções. Vemos que tudo está na Ordem, e portanto em ordem, e assim nossas emoções, e a pessoa emocional que somos, são válidas, respeitadas, honradas. Percebemos que não há nada de errado conosco, tampouco podemos culpar outros, tudo que acontece está em ordem, tem uma razão. Esse entendimento faz uma grande diferença em nossa vida! Então, Hari OM – que você possa apreciar Ishvara, a ordem psicológica, e ser abençoado por sua apreciação. Om tat sat Hari om Gloria Arieira Texto para o Yoga Journal em Abril de 2014 www.arshavidya.org www.arshavidya.in www.dayananda.org www.swamidayananda.org http://www.aimforseva.org #TradiçãoVédica #Bhagavadgita #Sânscrito #SanatanaDharma #SriKrshna #OMtatsat #Hari #Ishvara #Shiva #Vishnu #OM #Sadhus #Renunciantes #Rishikesh #Ordem #Leis #Yoga #Vedas #Sarasvati #HariOM

  • Dharma

    Dharma é uma palavra sânscrita que não possui uma tradução exata. O conceito tem que ser entendido para que possamos usar a palavra em Sânscrito com seu amplo significado. Dharma vem da raiz verbal dhr que significa sustentar. Dharma é um substantivo que quer dizer “aquilo que sustenta algo”. O dharma de uma pessoa é o que a faz ser o que é. O dharma de mãe ou pai, de filho ou filha, de companheiro ou companheira, de amigo, de cidadão. Fazer o meu dharma é fazer o que devo dentro de cada função específica, de cada papel específico que exerço a cada momento. Saber como fazer o dharma da mãe que sou a cada momento que a situação exiga. Este é o chamado de svadharma, o papel a ser seguido em particular por uma pessoa – vishesha dharma. Há outro significado que é do conjunto dos valores éticos básicos que devem ser seguidos pelo ser humano de forma a colaborar para uma sociedade harmônica e justa. Falar a verdade e não ferir (satyam e ahimsa) são exigências para que duas ou mais pessoas possam viver em paz. Ninguém gosta de ser enganado ou magoado, agredido. E para exigir que o outro não minta para mim ou me agrida, tenho que defender a verdade e estar atento ao outro, para não feri-lo. Viver a vida diariamente atento aos valores universais que me são caros e que com certeza também o são para outros, é viver uma vida de dharma, seguindo o dharma geral, os valores éticos comuns – samanya dharma. Assim, uma vida em que se prioriza o dharma é uma vida na qual a pessoa está atenta ao dharma nas suas duas expressões. Estar atento ao dharma faz com que a mente se torne discriminativa e atenta, pois quando os desejos estão alinhados com o dharma, não temos problema; mas, quando os desejos se opõem ao dharma, temos o que se conhece como um conflito. De um lado está o que quero e do outro está o que sei que devo fazer. Quem vencerá este cabo de guerra? Vencerá aquele com o qual eu tenha meu compromisso mais forte, aquilo que não cedo pois é muito precioso para mim. O yogi terá o dharma como seu maior compromisso e deixará de lado o desejo que se opõe a ele. Porém, o bhogi, aquele que prioriza seus desejos e prazeres, deixará o dharma de lado quando este antagonizar seus interesses e desejos. Uma ação que respeita o dharma produz punya, resultado positivo. A ação contrária, que não protege o dharma, produz papa, resultado negativo. Punya e papa são invisíveis, adrshta, mas são experienciados na forma de alegria ou tristeza. Algumas vezes a palavra dharma significa punya, o resultado positivo da ação que produzirá um bem-estar no futuro. Quando satisfazemos nossos desejos agindo inadequadamente, mesmo que outros não o percebam, a lei da ação traz o resultado correspondente à nossa ação. O resultado pode não vir imediatamente, mas virá com certeza um dia, pois leis cósmicas não falham. Como não falham as leis que fazem a terra girar, as águas dos rios correrem sem parar até o encontro com o mar, a chuva cair etc. A vida com o dharma é uma vida de yoga, e somente uma vida de yoga conduz à maturidade emocional que é a capacidade de gerenciar a própria mente – seus impulsos, desejos e valores. E é a mente amadurecida que encontra espaço interno para questionar seu objetivo de vida e para planejar realiza-lo. Por isso, Krshna diz a Arjuna duas vezes na Bhagavadgita – yogi bhava, Arjuna! Arjuna, seja um yogi. E, porque você é um yogi, Arjuna, você é muito querido – priyo’si me. E você alcançará certamente o objetivo final da vida – a liberação, moksha, seu desejo maior. Temos então como o maior dharma da vida humana o autoconhecimento que conduz à liberação do sofrimento e da sensação de inadequação. Enquanto o dharma de uma vida ética e de uma vida de yoga é relativo, o dharma absoluto é o autoconhecimento – nossa maior obrigação, o propósito maior da vida humana. E os sábios dizem que o dharma protege aquele que protege o dharma. Texto para o Yoga Journal em Agosto de 2014 www.arshavidya.org www.arshavidya.in www.dayananda.org www.swamidayananda.org http://www.aimforseva.org #Dharma #Sustentar #Satyam #Ahimsa #Samanyadharma #Punya #papa #dharma #Liberação #Autoconhecimento #ValoresUniversais #Mente

  • Narasimha, metade leão, metade humano

    Narasimha é divino, é uma forma de Vishnu que vem à Terra, é um avatara. A palavra avatara quer dizer exatamente isso – aquele que desce; é divino, mas toma a forma humana. Rama também é um avatara, assim como Krshna. Esses dois são nossos conhecidos, Narasimha, nem tanto. É dito que, quando as coisas aqui na Terra ficam muito difíceis de serem resolvidas, mas muito mesmo, a oração das pessoas que querem uma solução para aquilo que parece impossível de ser resolvido produz uma solução. Afinal, oração é ação, e para toda ação, diz a lei, há um resultado correspondente. Então, uma oração, principalmente aquela bem feita, com sinceridade, tem que ter um resultado; não importa quem seja o autor da oração, seja Rama ou Ravana! Quando as coisas ficam difíceis significa que a ordem, o dharma, está em desordem; o adharma fica mais forte e, então, muitas pessoas não sabem mais dizer o que é o certo. E, quando o dharma perde a força, consequentemente o adharma (seu oposto) ganha força. Como o dharma existe somente na pessoa que vive e defende o dharma, o dharma perde a força quando as pessoas que o apoiam estão em minoria. Quando um problema é muito grande, nós, afinal seres humanos, não conseguimos resolvê-lo sozinhos. Voltando para Narasimha, havia um rei chamado Hiranyakashipu que se tornara poderoso, ambicioso, arrogante e cruel. Seu domínio se estendia para todos os lados. Ele teve um filho, Prahlada, que se negou a toma-lo como deus. Para ele, Vishnu era o supremo. O que muito irritava seu pai. Um dia, não tolerando mais a devoção de seu filho para com Vishnu, o rei agride o filho tentando mata-lo. Mas Prahlada se mantem calmo. O rei diz – se seu Vishnu está em todo lugar, ele está também nesta pilastra e deveria aparecer para protegê-lo. De repente, quando o rei bate na pilastra, de dentro dela aparece Narasimha – metade homem, nara, metade leão, simha. Ferroz, ele agarra o rei. Este rei havia adquirido muitas bênçãos devido a sua imensa ascese por longo tempo. Primeiro, como fruto de sua ascese, ele pediu ao criador que fosse imortal, ao que o criador disse que nenhum ser pode ser imortal na Terra. Então, o rei diz que quer – não ser morto de dia nem de noite; nem dentro nem fora de casa; nem por homem, nem por animal, nem por outros seres; por nenhuma arma; nem no chão nem no ar; que possa governar sem rivais e com muitos poderes. Pensando que, com sua esperteza, tinha conseguido a imortalidade, pois como e quando alguém poderia mata-lo?! Mas da pilastra aparece Narasimha – não era exatamente dia nem noite, sentado debaixo da soleira de uma porta (nem dentro nem fora do palácio), Narasimha coloca o rei em seu colo (nem no chão nem no ar), e com suas garras, Narasimha, que não era homem nem animal, abre a barriga do rei e tira suas tripas, destruindo-o. O rei morre, porém Narasimha ainda está em sua forma feroz, nada nem ninguém consegue acalmá-lo. Somente quando seu devoto Prahlada aparece em sua frente com amor e sinceridade, Narasimha consegue se acalmar e mostra sua forma amorosa e benigna. Esta estória tem o poder de nos acalmar, nos aceitar como somos. Pois, se até o divino na forma humana tem seus aspectos feroz e benigno, é natural que os seres humanos também tenham essa dualidade. O que pode nos fazer especiais é conhecer nosso Prahlada, saber o que podemos fazer para nos acalmar, para aquietar nosso coração. Ter momentos de agitação e raiva, e outros de quietude e tolerância, faz parte da estrutura humana; o que nos faz divinos não é eliminar essa dualidade inevitável, mas ter a capacidade de agir sob elas nas devidas proporções (respeitando o dharma), sabendo dominar os extremos e trazer rapidamente nosso samatvam, nosso equilíbrio. Ambas as formas de Narasimha podem ser encontradas em seus templos na Índia. Para seus devotos, ele é protetor nos momentos de perigo, e afasta o medo. Om narasimhaya namah! Gloria Arieira Texto para o Yoga Journal em Setembro de 2014 www.arshavidya.org www.arshavidya.in www.dayananda.org www.swamidayananda.org http://www.aimforseva.org

  • Sucesso no Empreendimento

    Estamos inaugurando uma revista nova, renovada, com nova coordenação e novos projetos; e inaugurando uma coluna. Como parte de um projeto sobre a tradição dos Vedas, o início é muito importante. Deve ser escolhido com precisão, um bom dia, um momento auspicioso. Para a realização de algo, para seu sucesso, devemos considerar três fatores – prayatna, o esforço, kala, o tempo, e daiva, o terceiro fator. Sabemos que o esforço é importante em qualquer realização. E o esforço deve ser na direção e na medida certas. Por exemplo, se quero chegar a algum lugar, tenho que andar (ou usar um meio de transporte) por algum tempo, na direção do lugar que se quer alcançar. Andar na direção oposta pode demandar muito esforço, mas que será inútil. Porém, pode-se andar, e até cansar, mas não ser o suficiente para o que se quer alcançar. Para completar o esforço, este deve ser na medida certa e na direção certa. O tempo é outro fator indispensável. Por exemplo, após esforço de arar a terra, adubá-la e plantar, o resultado tem que ser esperado com paciência. Um determinado tempo tem que passar entre a ação e seu resultado. Mesmo com esses dois fatores, o sucesso não é certo. Muitas coisas podem acontecer. Por exemplo, o que foi plantado no rico e preparado solo pode crescer e estar preparado para a colheita, mas, um dia antes, pode acontecer uma forte chuva, ou uma geada inesperada ou mesmo um calor escaldante – e a colheita é perdida! Temos poder sobre o esforço que deve ser feito e sobre a paciência para a espera do tempo necessário, mas não há qualquer poder ou certeza sobre o sucesso do empreendimento. Temos poder sobre a ação, mas não sobre o resultado da ação. Mas isso não deve nos fazer desanimar e nos entregar a não-ação. Por isso, antes de qualquer empreendimento na Índia, berço da tradição dos Vedas, faz-se uma invocação ou oração. Como se a pessoa dissesse – Fiz tudo que pude, mas sei que existe um fator que não está em minhas mãos, tudo que posso fazer é reconhecer minha impotência em relação às leis que governam o universo, a natureza, -- que elas estejam a meu favor, que os obstáculos sejam eliminados. Assim eu me aquieto, tudo que pode ser feito foi feito por mim! Com o coração aquietado, espero para ver o que vem, e se for necessário, e for meu desejo, faço nova ação para modificar o resultado. O que é o sucesso do empreendimento? O sucesso é o que mais se deseja. Tenho sucesso quando consigo o que quero, fracasso quando não consigo o que quero. Mas o que quero?! Você já pensou sobre isso?! O que você verdadeiramente quer quando faz o que faz diariamente? Poderia enumerar muitas coisas, certamente. Mas através delas o que você quer é ser feliz, estar bem, ser aceito por você mesmo e por outras pessoas que importam para você. Então, o sucesso é estar em paz, estar satisfeito. A invocação antes de qualquer empreendimento é para que os obstáculos sejam eliminados e o objetivo possa ser alcançado. Mas, principalmente, para que eu possa estar bem, em paz comigo mesmo. O receptor de nossa invocação, para o sucesso do empreendimento desta revista e desta coluna, será aqui o Senhor Ganesha ou Ganapati. A palavra Ganesha deriva-se de gana + isha; e Ganapati é gana + pati. Ambas as palavras isha e pati significam senhor. Gana é um grupo, dos humanos, dos animais, dos seres vivos. Entre os humanos, o grupo das crianças, dos jovens, dos adultos; o grupo dos ocidentais, dos orientais; enfim, todos os grupos! É o senhor de todos os seres, mais conhecido no norte da Índia como Ganesha e no sul da Índia como Ganapati. VAKRATUNDA MAHAKAYA SURYAKOTI SAMAPRABHA. NIRVIGHNAM KURU ME DEVA SARVAKARYESHU SARVADA. Ó senhor que possui uma tromba curvada, um corpo grande e forte e cujo brilho é equivalente ao do Sol. Por favor, me abençoe para que sempre todos os meus empreendimentos sejam livres de obstáculos. Com o esforço, o tempo e a invocação para que os obstáculos possam estar fora do caminho, começamos este novo empreendimento. E, na Índia, onde a cultura védica permeia o país na maneira em que todo seu povo vive o dia-a-dia, vi algo muito interessante uma vez. No sul da Índia, numa abertura pública de uma reunião comunista, os organizadores fizeram uma invocação para que a reunião tivesse sucesso e os obstáculos fossem eliminados. No microfone fizeram uma invocação/oração em Sânscrito e acenderam uma bonita lâmpada a óleo! Podem ser comunistas, mas antes de tudo o que permeia a maneira de ver e conduzir a vida na Índia é a tradição dos Vedas. E é isso que encanta qualquer visitante àquele país. Nesta coluna, quem está no alto do pódio é Vaidika Dharma, a tradição védica, para a apreciação e o justo encantamento dos leitores. Hari om Gloria Arieira Texto para o Yoga Journal em Janeiro de 2014 www.arshavidya.org www.arshavidya.in www.dayananda.org www.swamidayananda.org http://www.aimforseva.org #TradiçãoVédica #Prayatna #Kala #Daiva #Esforço #Tempo #Invocação #Paciêncvia

  • Os Valores Universais

    O ser humano está naturalmente inserido num contexto social, relacionando-se com outros e com situações variadas. Busca uma completa satisfação pessoal, e para isto, tanto quanto para uma plena participação neste mundo, é necessário que seus deveres e direitos estejam bem estabelecidos, valorizados e claros para si mesmo. Os deveres são tudo aquilo que compete a uma pessoa. Aquilo que deve ser feito por uma determinada pessoa e não por outra, dada a peculiaridade única de cada um. Os direitos, tudo aquilo que vem para nós, se os outros fizerem sua parte, seu papel correspondente. Como por exemplo, se eu faço meu papel de manter meu ambiente de trabalho organizado, meus colegas terão garantidos seus direitos a um lugar agradável. Deveres e direitos, quando respeitados numa sociedade, trazem ganhos, vantagens para todos. Mas para isto, deve haver o entendimento sobre os deveres específicos de cada um para que possam conseqüentemente ser respeitados. É esta própria clareza que adequa o ser humano à sociedade, dando-lhe a ferramenta para poder, e não só querer, respeitar a lei para a harmonia entre os seres humanos e consigo mesmo. Pouca utilidade existe em somente afirmar “faça isto”, “não faça aquilo”. Enquanto houver controle por parte de outros, pode ser que determinada lei seja seguida. Mas não podemos chamar de valor pois não possui um valor verdadeiro e tão somente temor. Quando são reconhecidos os ganhos que teremos ao seguirmos os chamados valores, e as perdas ao ignorá-los, poderemos então implementá-los à nossa vida. Temos então que descobrir como são valiosos os valores. Valiosos para nós mesmos e para o bom convívio com os outros. Valores como a verdade, a não-violência, e tantos outros serão seguidos de maneira natural se os ganhos e as perdas conseqüentes ao segui-los forem analisados. Quando não há a compreensão adequada dos valores, eles estarão presentes pela metade e seremos capazes de abrir mão deles em determinados momentos, agindo de maneira conveniente, e criando conflitos na mente. Estar livre de conflitos e em paz é o desejo primordial do ser humano e possível de ser satisfeito ao se descobrir o valor dos valores. Em um livro muito claro, intitulado “O Valor dos Valores”, Swami Dayananda Saraswati nos ensina a apreciar cada valor e adquirir seu valor de forma pessoal e completa. www.arshavidya.org www.arshavidya.in www.dayananda.org www.swamidayananda.org http://www.aimforseva.org

  • Meditação

    O corpo é um instrumento que eu tenho à minha disposição e que é extremamente sensível. É sensível aos vários elementos da criação: ao ar, ao vento, ao fogo. Mesmo à água ele é sensível. É sensível a outros objetos, a outro corpo. Ele pode reagir com doenças, alergias, febres. Da mesma forma que é necessário cuidar conscientemente deste corpo, que é tangível, grossificado, que é palpável, objetificável, muito mais é exigido em relação à minha mente... Muitos mais cuidados eu tenho que dispensar a ela. Eu não posso jogar o meu corpo em objetos, sujeitar o meu corpo a várias situações danosas, não posso ignorá-lo. Tenho que protegê-lo adequadamente e lidar com ele corretamente para que eu possa ter um instrumento ao meu dispor, conforme necessito. Protegê-lo adequadamente do calor e do frio; da chuva e de vários outros objetos e situações. Mas a minha mente é muito mais sensível. Como muitas vezes eu não sei o que produziu um corte ou uma ferida no corpo físico, também muitas vezes não sei como um sentimento, uma reação se produziram na minha mente. E a dor emocional, a dor que está em mim, também é muito forte, talvez mais até do que a dor física. É necessário cuidar da minha mente com todo o carinho e atenção. Se quero uma harmonia da minha mente, tenho que tratá-la com harmonia; se quero paz, tenho que tratá-la dessa maneira. Se não quero que ela fique marcada, tenho que tratá-la com cuidado, com compreensão. Todo e qualquer sentimento, pensamento e reação que eu veja na minha mente foram produzidos, alimentados por mim mesmo. Eu mesmo abri a porta da mente e deixei entrar, e agora ela me traz o efeito. Um medo, uma reação que se insinuou; nada foi colocado na minha mente por outra pessoa a não ser eu mesmo. Tudo foi cultivado e armazenado por mim. Sentimentos positivos ou negativos não brotam fortes, mas são fortalecidos ao serem reforçados por mim no dia a dia. É necessário fortalecer minha segurança, minha autoconfiança, minha auto-estima, minha aceitação e compreensão e proteger minha mente do desgaste, de situações que me fazem reagir violentamente, do cansaço mental. É necessário escutar e refletir sobre o autoconhecimento, vivê-lo a todo momento, descobrir o Eu real e completo, eliminando a realidade da mente e seus processos. www.arshavidya.org www.arshavidya.in www.dayananda.org www.swamidayananda.org http://www.aimforseva.org #Meditação #Mente

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